Já todos sabemos. A pandemia do Covid-19 virou o nosso mundo de pernas para o ar. Milhares de pessoas, por todo o mundo, mudaram drasticamente as suas rotinas e, em apenas em alguns dias, o que tomávamos como certo, transformou-se em incerto. Não há certezas e mesmo o “vai ficar tudo bem” é uma grande incógnita.
Devido à sua natureza, há naturalmente setores mais afetados do que outros. O setor dos eventos, onde se inserem as conferências, é, indubitavelmente, um dos mais afetados pois tem na sua génese dois fatores que são essenciais evitarmos para conseguirmos controlar esta pandemia: deslocações e concentrações de pessoas.
Se nisto não há dúvidas, como podemos, então, contornar esta realidade? Não haverá mais nenhuma alternativa que não seja o adiamento ou o cancelamento dos eventos? Depende, será a resposta mais acertada e, certamente, uma das mais ouvidas.
Eu próprio deparei-me com este problema no centro de conhecimento Smart City Innovation Lab, da CATÓLICA-LISBON School of Business & Economics. Tínhamos planeado receber, em Lisboa, de 17 a 19 de junho, mais de 100 investigadores de todo o mundo para debater as oportunidades e desafios para a sustentabilidade na era digital. E, curiosamente, um dos temas em cima da mesa era discutir de que forma se poderiam tornar as viagens dos académicos mais sustentáveis, uma vez que são a principal pegada de carbono das universidades. Motivo pelo qual tínhamos até planeado apresentar diversas formas de conferências virtuais – embora em menor escala e com o foco na realidade virtual. No entanto, devido à rápida evolução da pandemia que nos colocou a todos em trabalho remoto, a nossa equipa decidiu expandir a área de conferências virtuais e desenvolver a plataforma iChair.org (www.ichair.org) que nos permitirá realizar a conferência GRONEN2020 totalmente online, na mesma data. Esta plataforma permite três tipos de participação na conferência: webinar, onde os participantes se podem juntar às sessões, ouvir os speakers e interagir com outros participantes; um multi-hub mode, onde os participantes podem usufruir do modelo de conferência mais tradicional, juntando-se em pontos de encontro (i.e., hubs regionais) ou conectando-se de casa; e o modo de realidade virtual, onde os participantes se podem mover e interagir nas salas virtuais usando óculos de realidade virtual. A última opção é bastante futurística e faz parte do âmbito de um projeto piloto que o Smart City Innovation Lab está a desenvolver com a Universidade de Queensland.
Com esta solução, participantes de todo o mundo podem aceder às salas de reuniões virtuais online, através da internet. Isto oferece não só uma alternativa adequada às conferências presenciais, mas é também uma forma rentável e que poupa tempo para tornar as conferências académicas mais sustentáveis.
É perante as crises que, muitas vezes, saem grandes oportunidades. E, não esquecendo nem menorizando as graves e catastróficas consequências que nos trouxe o Covid-19, sejam elas sociais ou económicas, acredito que devemos tentar tirar o melhor partido da experiência e inovar onde estávamos estagnados. Há muito que falávamos na digitalização e nas maravilhas da internet. Com o trabalho remoto fomos obrigados a adotar procedimentos e a aceder a tecnologias que nos fizeram perceber que há muitas tarefas que podemos fazer melhor desta forma, evitando dezenas de quilómetros e várias horas perdidas.