Hoje em dia, entre amigos, mesmo os próximos, é muito raro ter conversas sobre a minha participação e vida política. Como eu, há muitos. São inúmeras as ocasiões em que jovens militantes de juventudes partidárias ou partidos políticos evitam falar ou discutir sobre as suas próprias estruturas no seio dos seus grupos de amigos. Seja pelos constantes atropelos estatutários, seja pelas sucessivas tentativas de deturpação dos regulamentos eleitorais, para usufruto de projetos políticos vigentes e consequente obstrução de quem ousa fazer frente, são diversos os motivos pelos quais, por vezes, um jovem tem dificuldade em sequer defender a estrutura onde milita. Se já é difícil defender o indefensável perante os seus pares, imagine-se entre amigos apartidários que desconhecem estes fenómenos da vida político-partidária.

Fala-se constantemente e, provavelmente desde sempre, sobre o afastamento dos jovens da política, mas a realidade é que há hoje mais jovens interessados na política do que há 20 anos; o que é bem diferente de dizer que há hoje mais jovens interessados nos partidos políticos e nas juventudes partidárias. Estas estruturas, em concreto, as juventudes partidárias, mantêm a postura de afirmar que é preciso resolver os problemas dos jovens: que é preciso falar para eles, que é preciso trazê-los para as estruturas. Esta lengalenga intemporal tem tanto de fastidioso como de inconsequente, porque acima de qualquer palavra que preencha artigos, publicações, reels, stories, essas coisas mundanas da vida social moderna; acima de tudo isso estão as ações, e essas continuam as mesmas de sempre. Essas palavras são inconsequentes porque enquanto falam em resolver os problemas dos jovens, a maioria das suas propostas não vai de ao encontro às reais necessidades dos jovens portugueses; são inconsequentes porque enquanto falam em trazer mais jovens para as estruturas, quando os trazem, fazem-no, em primeiro lugar, para aumentar os seus números e assim empoderar as suas estruturas locais – é ridículo o número de militantes fantasma que tanto os partidos políticos como as juventudes partidárias têm -, em seguida vêm se tiverem a “mentalidade certa” e se concordarem e elogiarem os seus líderes, porque de outra forma são purgados, exilados nos confins perdidos de uma qualquer ficha de militância. Quem ousa pedir a palavra, quem ousa pensar diferente, é arredado e afastado. Quem se mantém junto ao líder, terá a ínfima possibilidade de um dia ter um qualquer cargo político, o chamado “ser alguém”, como se fosse um cargo político que ditasse quem somos ou quem seremos no futuro.

Portanto, a conclusão necessariamente simplista a que chegamos é que, entre outras razões, as juventudes partidárias não chegam aos jovens por um muito simples motivo: porque os seus líderes não querem. Querem continuar a pregar o sermão aos seus pares, preferencialmente àqueles que já concordam visceralmente com o que irão dizer, querem acumular cargos, títulos e comissões de honra para que, de degrau em degrau, cheguem sempre mais longe, quando chegar mais longe deveria ser consequência natural do trabalho e das suas capacidades políticas. São mais aqueles que praticam política para os seus do que aqueles que praticam política para todos: para os afastados, para os desacreditados, para os que nunca tiveram interesse em militar numa estrutura política. É para esses que urge criar uma nova forma de fazer política. É imperativo, por um lado, criar propostas políticas que possibilitem solucionar verdadeiramente os problemas dos jovens em Portugal e, por outro, abraçar as diferenças de opinião, procurar consensos e não saneamentos políticos “à nascença”, construir projetos políticos vastos onde todas as pessoas são livres de dar as suas ideias e opiniões, por muito disruptivas que sejam.

Houve tempos no nosso país, em que a liberdade tinha um significado bastante mais profundo e um sentimento imenso em cada um de nós florava, como se de um segundo batimento cardíaco se tratasse. Havemos de voltar a esse tempo.

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