A ideologia marxista-leninista, vencida com a queda da União Soviética em 1989-1991, e rejeitada nos anos seguintes na Rússia, manteve fortes bastiões no Ocidente euro-americano, sobretudo na área académica das Humanidades ou “Ciências Sociais” e nos media. E estas são áreas chaves do chamado “poder cultural”.

Essas áreas – onde pensadores como Gramsci, Lukács, Marcuse, Sweezy, Chomsky mantiveram uma tradição de presença e hegemonia – são, ao fim e ao cabo, decisivas na formação da juventude e da opinião, e por isso, decisivas, a médio e longo prazo, na construção do pensamento hegemónico. E “à direita”, curiosamente, depois de abolido o “socialismo real” e os conceitos básicos de luta de classes, do papel redentor da classe operária, do enfrentamento final Burguesia-Proletariado, o que ficou como definição identitária ideológica foi a bíblia liberal que, nos anos oitenta, com Reagan e Thatcher, alimentados pelos neo-clássicos da Escola de Viena eram a alternativa vitoriosa ao socialismo.

Ou seja, um curioso contrassenso: na ocasião em que as duas grandes potências da esquerda comunista aboliam o socialismo e passavam, gradual ou brutalmente, para o capitalismo da direcção central, no Ocidente vencedor, reduzia-se a cartilha ideológica ao ultraliberalismo pós-guerra fria, agora, findas as cortinas ideológicas, estendido a todo o mundo. Deslocalizavam-se indústrias, acelerando a desindustrialização da Euro-América, em busca de terras de salários baixos, inexistência de sindicatos e direitos dos trabalhadores, em que se tinham transformado antigos “países socialistas” como a China ou o Vietname.

Ao mesmo tempo, a ideologia esquerdista, privada do baluarte soviético, reconvertia-se em novas causas e novas ideologias: as causas da correcção política, do género, da destruição da “família tradicional”, do ateísmo militante.

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Tudo muito bem trabalhado, começando numa fase reivindicativa dos direitos de minorias real ou supostamente oprimidas, pela sua cor, pela sua raça, pela sua religião ou pelos seus costumes; até se descobriram os “direitos dos animais”. Foi uma acção persistente, de longa duração que actuou, explorando uma das forças e fraquezas do pensamento ocidental e cristão: a autoconsciência crítica, a compaixão pelos real ou supostamente mais fracos, a vulnerabilidade às reivindicações que aparecem como “dignas, justas e racionais”.

Houve, a partir de movimentos intelectuais de “revolta”, até às redes de influenciadoras castas académicas esquerdistas, que aprenderam a travestir os seus preconceitos ideológicos com vestes científicas, um trabalho de longa duração – entre os anos 80 do século passado e a actualidade. E que deu os seus frutos. Esses frutos estão à vista, nas formas de terrorismo intelectual e mediático, que já não recorrem apenas à táctica de transformar ideologia pura, dura – e falsa – em ciência social, como agora, avançam com formas de autêntico terrorismo totalitário, na própria censura de livros e filmes, no banimento de notícias, na purga de “hereges” (académicos conservadores, dissidentes ou simplesmente independentes).

Por seu turno, os “liberais” – esquecidos que a Liberdade dos Antigos não era arbítrio, mas andava estritamente ligada à Verdade e à Virtude – toleraram e toleram tudo desde que não lhes toquem na liberdade económica. Mais e pior: tornaram-se aliados objectivos – e às vezes subjectivos e encantados – dos esquerdistas em matéria de costumes e de valores nacionais (a que são indiferentes). E fazem causa comum com os esquerdistas no combate a figuras de resistência, nas quais descobrem todos os defeitos.

O aparecimento de reacções na Euro-América, reacções nacionais-conservadoras ou nacionais-radicais (e o risco para o esquerdismo radical militante é uma aliança “à direita” destas forças), explica, em grande parte a ofensiva mediática sistemática contra líderes como Donald Trump, Viktor Orban ou Jair Bolsonaro, que são sempre pintados, mesmo nas mais absurdas circunstâncias, como a “origem do mal” ou o “ovo da serpente”. Eles são a causa de tudo – dos mortos da pandemia, do racismo entranhado na sociedade; são até – imagine-se  – os autores das vandalizações ou derrubo das estátuas, da destruição e queima de lojas, das brutalidades da polícia.

Na sua maquiavélica acção segundo têm insinuado personalidades da esquerda local, nomeadamente do BE, poderão até ser mesmo elementos de extrema-direita que vandalizaram as estátuas de Padre António Vieira em Lisboa e até do Cónego Melo, em Braga, para mancharem o bom nome e reputação da Esquerda. Como devem ser supremacistas brancos que nos Estados Unidos andam a derrubar estátuas e saquear lojas, e direitistas ingleses a conspurcar a estátua de Churchill ou de Baden Powell. Alguma vez gente de Esquerda tão pacífica e cívica faria tais selvajarias?

A ver se nos entendemos: a sociedade portuguesa não é racista, embora haja, como em toda a parte, racistas. Brancos e negros.

Embora, como todas as nações coloniais haja, no passado remoto, histórias de esclavagismo e racismo, e mais recente de descriminação e brutalidade, a partir dos anos 60 do século passado, houve um esforço oficial legislativo e social para abolir tais situações.

A direita portuguesa tem uma matriz integradora e anti-racista activa. Aliás seria pouco provável que uma sociedade tão entranhadamente racista como a pretendem alguns porta-vozes da Nova Esquerda gramsciana, aceitasse um primeiro-ministro de origem goesa e uma ministra da Justiça de origem angolana. Seria como Adolfo Hitler ter entre os seus ministros, pessoas com apelidos Rosenberg, Cohen, Mordecai, Jakobovits.

Basta olhar a África lusófona, nomeadamente Angola e Cabo Verde, onde um branco não é notícia, é um ser normal que não é odiado nem venerado, onde não há “racismo” para, pelo espelho, perceber essa ausência de racismo natural e desmentir que ele existe na sociedade portuguesa. Sempre ressalvando que há racistas, como há nazis, como há maoistas e estalinistas.

Outra coisa são as condições de pobreza ou sociais que comunidades de africanos conhecem em Portugal, nomeadamente nos arredores de Lisboa. Mas para isso seria melhor perguntar aos responsáveis dessas autarquias suburbanas, geralmente geridas pela esquerda, o que têm feito nos últimos 45 anos para melhorar essas condições.