Há uma certa frustração em ouvir, há anos, as mesmas promessas e os mesmos diagnósticos sobre a nossa geração. A geração mais qualificada de sempre é, sempre, o futuro mas nunca deixa de ser também a geração mais precária de sempre, onde prevalecem baixos salários. A escola pública é sempre do Séc. XIX mas nunca se reinventa. O ensino superior é cada vez mais “o” elevador social, mas os custos de acesso e frequência continuam a deixar muitos apeados. Cada vez menos jovens têm habitação própria e cada vez mais sofrem com problemas de saúde mental. A menos, temos o consumo de cultura e a prática de desporto, a mais, a vulnerabilidade digital e o abismo climático.

Se essa frustração extravasa fronteiras e é partilhada por jovens um pouco por todo o mundo ocidental, estes são desafios que o nosso país sente em particular e que apenas cada país pode responder. O erro está em achar-se que desafios desta escala e de múltiplas frentes se vencem de uma só vez e apenas com um instrumento – seja ele a redução dos impostos, a mão invisível dos mercados liberalizados, ou qualquer outro. Outras ferramentas são necessárias e, na escassez de tempo e meios, será preciso escolher quais se aplicam e quando.

É também por este prisma que devemos encarar o debate orçamental. Prezando o bom senso sobre as boas intenções daqueles (hoje tanto à direita como à esquerda) que juntam a equação impossível de toda a despesa aumentar, os impostos cortar e ainda o défice exigir que possa ainda mais baixar. Mas também tendo a humildade (ou diria mesmo seriedade) de reconhecer que, por muito que este Orçamento os mitigar, os frustrantes problemas que enfrenta a nossa geração continuarão por cá no próximo ano. Recuperando o nome do histórico programa de Mário Soares com Clara Ferreira Alves, “o caminho faz-se caminhando”.

Essa é uma afirmação justa para com este Orçamento e estes 6 anos de governação PS que o antecederam. Se hoje o abandono escolar já é menor do que na média europeia, deve-o à contratação de professores, assistentes operacionais e psicólogos e aos importantes avanços na autonomia e flexibilidade curricular. O ensino superior não teria hoje um número recorde de estudantes se não fosse a redução da propina, o aumento do número de bolsas atribuídas e do seu valor. Portugal não lideraria a transição climática na Europa, se não fosse a aposta nos transportes públicos e nas energias renováveis, que permitiu encerrar as centrais a carvão com 9 anos de antecedência. Se convergimos com a Europa, com recordes de investimento direto estrangeiro e emprego qualificado, devemo-lo ao reforço do investimento em ciência e na ligação desta com as empresas.

Este é um Orçamento que dá novos passos, firmes e largos, no sentido de mais oportunidades para os jovens. Sê-lo-á ainda mais depois de findo este processo de especialidade. Se era importante triplicar as bolsas para estudantes de mestrado, ainda mais será o congelamento das propinas em todos os ciclos do ensino superior, uma conquista da Juventude Socialista que acontece apenas pela 2.ª vez na nossa história. Se é fundamental executar os 85 milhões que o Orçamento prevê para investir em residências, o Orçamento do Estado irá, por proposta da Juventude Socialista, desenvolver uma nova forma de apoio aos 12.000 estudantes bolseiros deslocados da sua residência, apoiando os seus custos de mobilidade. O rendimento do trabalho será reforçado com a extensão do IRS jovem, para os trabalhadores independentes e de 3 para 5 anos, podendo, por proposta da JS, atingir doutorados até aos 35 anos. As jovens famílias poderão, não só, beneficiar das creches gratuitas como também do reforço do abono de família e da dedução por dependente, constituindo uma Garantia para a Infância, que no caso de pobreza extrema, pode atingir 1200€, e que não deixa ninguém de fora, assegurando que mesmo quem não tem rendimentos para beneficiar plenamente da dedução fiscal recebe o valor total, pagando a AT a diferença. O associativismo juvenil vai passar a receber a consignação de IRS, que no ano passado deu 26 milhões a mais de 4000 entidades. A economia circular passa a beneficiar de taxa reduzida de IVA, promovendo um comércio mais sustentável.

Nenhuma destas medidas vai resolver completa e definitivamente, de uma assenta, os problemas que assolam a nossa geração ou o nosso país. Mas, no final do dia, podemos ter a convicção de estarmos mais próximos do destino. Afinal de contas, criticar é fácil mas o que importa é fazer. Porque o caminho, esse, faz-se caminhando.

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