“As pessoas perceberam que o Futebol não é indispensável”, Fernando Gomes, presidente da FPF.

De um dia para o outro, fecharam-se os estádios e os centros de treinos. Toda a atividade parou. Os jogadores foram para casa, os adeptos também. Tal como o mundo e os nossos hábitos, a organização dos clubes do futebol vai ter que mudar.

A maior parte dos clubes só vive para o jogo do fim de semana. Contratam-se estrelas sem que exista capacidade financeira para pagar salários, com o intuito de agradar à massa adepta e tentar ter resultados a curto prazo, a maior parte das vezes abrindo buracos financeiros dificilmente recuperáveis.

Dentro dos clubes, a área técnica, scouting, departamento médico, nutrição, performance, residências, logística, gestão de jogadores e de agentes… normalmente trabalham separadas geográfica e logisticamente. A informação é espalhada pelos diferentes departamentos, com sistemas tecnológicos diferentes, o que acarreta uma imensa ineficiência dos processos e das decisões.

Com o Covid-19 fomos todos obrigados a mudar. Como disse o presidente da FPF, a pandemia também nos ensinou que” o futebol não é indispensável”. É preciso reinventar o futebol. A solução já não é contratar uma determinada estrela e ter sorte. Os clubes devem ter uma definição sistematizada dos fluxos de trabalho e, acima de tudo, uma reestruturação e automação de processos através da tecnologia, para garantir um crescimento sustentável, através de uma estratégia de investimento em recursos humanos e tecnológicos de médio e longo prazo.

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A evolução tecnológica é cada vez mais utilizada pelos treinadores para os seus próprios trabalhos, mas é ainda muito descurada por todos os outros departamentos.

Hoje, a maior parte dos clubes de primeira e segunda divisão utilizam coletes GPS para medir o comportamento físico do atleta. Mas a empresa/clube deveria cruzar os dados da performance física com os dados académicos, económicos ou alimentares. Ter esta informação centralizada é a possibilidade infinita de cruzamentos de dados que irá servir para analisar tendências, tanto físicas como logísticas, e inclusive conseguir prever o futuro utilizando o Machine Learning.

Nesta atividade do Futebol a resistência à mudança é grande. É difícil convencer um treinador que prepara treinos em papel há 25 anos que utilize um sistema tecnológico. Além disso, a elevada rotatividade não só dos funcionários do topo, como dos treinadores, também não ajuda.

O que acontece atualmente é que o know how, os dados e as análises, ficam na posse dos treinadores/dirigentes que, inevitavelmente, abandonam o clube, obrigando-o a recomeçar do zero sistematicamente.

Atualmente já temos projetos em Portugal interessantes e que lutam contra essa dinâmica, como o Famalicão, que investiu na formação garantindo a definição de uma lógica entre todos os escalões de formação. Nos últimos 15 anos, também o Benfica definiu uma estratégia de reestruturação. Seguramente que os adeptos estavam muito impacientes na altura mas, quando as coisas são bem feitas, os resultados falam por si-  nos últimos seis anos, cinco títulos de campeão nacional.

Também temos casos como o Vitória SC ou o Estoril Praia que vão percebendo a importância desta visão. Infelizmente, ainda são poucos.

A Federação e a Liga muito têm feito para o bem do futebol português. Desde o certificado de entidades formadoras, ao processo de inscrições online da Liga, etc. Mas para garantir que o futebol cresce de maneira sustentável é necessário que a evolução na área desportiva seja acompanhada de uma evolução na área operacional e administrativa.

A pandemia do Covid-19 deve ser aproveitada como uma oportunidade de aceleração da digitalização do sector do futebol. Não há alternativa. Quem continuar a gerir um clube com base no fim-de-semana seguinte, irá ficar para trás.