“Que profissão gostarias de ter quando terminares o teu curso?”
“Não sei… acho que ainda não foi inventada!”
Este excerto de uma entrevista a uma jovem estudante norte-americana faz parte do meu modo de pensar há já alguns anos. Ajuda-me a olhar para a frente, a pensar o futuro ou pelo menos a tentar adivinhá-lo, antevê-lo ou se quiserem a “projectá-lo”.
Este futuro não-inventado é agora. Este futuro não-inventado está a ser liderado por duas áreas que cada vez mais estão a convergir: o design e a tecnologia.
Há uns largos anos os designers tinham os seus campos e as suas competências fechadas, circunscritas e muito bem definidas.
Nos anos 60, 70 e 80, o papel do designer industrial era claro: criar um objeto físico. Só isso. Agora tem que entender a tecnologia que o vai orientar, os componentes físicos, os sensores, o ecossistema. Tem que saber de interface e de interacção, usabilidade, enfim… saber só de materiais e de processos de produção deixou de ser suficiente.
A tecnologia não está apenas a mudar o modo como fazemos design. Está também a mudar o design que fazemos. Está está a mudar os objectos. Está a mudar os nossos desejos e necessidades.
A maioria dos novos negócios, dos novos produtos e serviços que se vão atravessando na nossa frente, são brilhantes combinações de design com tecnologia. No relatório Design In Tech de 2016, elaborado pelo John Maeda, pode ler-se que as 36% das 25 maiores startups financiadas são co-fundadas por designers. Um valor bastante acima dos 20% em 2015. O que significa, não só que a tenologia e o design têm uma relação escaldante, mas também que este casamento tem um potencial fortíssimo nas áreas de negócio.
Continua-se a perguntar o que é o design. Já temos resposta? Talvez. Mas estranho que pareça é bom ainda não haver uma resposta consensual.
Melhor, é bom que a resposta se vá transformando, mudando, evoluindo. Melhor ainda, é bom que a resposta se vá reinventando.
Boas perguntas obrigam-nos a melhores respostas. Boas perguntas levam-nos a fazer coisas melhores.
O design já atravessou o seu Rubicão. Já.
E já não é possível voltar atrás. Não.
O choque entre a tecnologia e o design deixou de fazer sentido.
Este choque é agora uma aliança. Este choque forçou as novas relações que emergem entre nós, os objectos e a tecnologia.
Esta aliança diz-nos de forma muito clara, e isto digo eu que sou suspeito, que se o design nos dá as soluções, a tecnologia dá-nos as possibilidades.
Dean da Escola de Tecnologias, Artes e Comunicação na Universidade Europeia, Vice-Reitor no IADE-U
carlos.rosa@universidadeeuropeia.pt