Estou há várias semanas para escrever este texto, e a verdade que, apesar de publicado, não estou nada contente com o resultado.

Isto de ser criativo, de ter ideias, pensar “fora-da-caixa”, afinal dá muito trabalho.

E a mim não deveria dar trabalho nenhum, porque eu tenho a responsabilidade de ensinar a ser criativo!
Estou (finalmente) solidário com os dramas da rapaziada da escrita. A facilidade de um texto é para os virtuosos. A qualidade da escrita é para os “trabalhosos”. E eu fartei-me de trabalhar para isto. E isto aqui que estão a ler não é o texto original, ou melhor, não é texto finalizado, porque esse ficou noutra pasta para mais tarde publicar.
Um mês! Um mês inteiro de pesquisas, “saves” em artigos da Wired e da FastCoDesign. Mais umas tantas pesquisas no Google e umas quantas visitas a museus, feiras e eventos.

Só em “saves” para mais tarde ler ou recordar, ou se quiserem, aguçar a criatividade conto 27, texto lidos com notas tiradas no iPad conto mais 8 e entradas no meu caderno de notas, mais 12.

Esta fase do processo criativo acaba por ser divertida. Deixa de o ser, e os meus alunos que não leiam isto, quando se revela inconsequente. Como neste texto! Fazer um “brainstorming” e um “mindmap” para clarificar as componentes de um problema, gerar ideias e tal e tal… afinal talvez esteja na altura de começar a fazer aquilo que ensino. Adiante!
Os meus dramas desta minha nova vida de cronista são na verdade muito semelhante aos meus dramas de designer. Atrevo-me a dizer que a minha escrita jornalística (posso dizer isto?) também é, e de que maneira, uma espécie de catarse criativa. Eu já sabia que o mundo dos textos estava muito próximo ao mundo das imagens. Mas tanto? Ora vejamos, a imagem certa resolve o mundo, o texto certo permite-nos imaginar como o mundo seria. Um bom texto descreve o mundo e a projecção de uma imagem antevê o futuro. Enfim… texto e imagem de mãos dadas. Uma pieguice, mas muito, muito verdadeira.
Coisas como, “faz lá um boneco” está ao nível de “desenrasca-me lá umas linhas”. Fazer o boneco certo ou escrever a linha certa não dá trabalho. Dá trabalho é saber qual é o boneco certo ou a linha certa antes de o desenhar, de a escrever.

É muito fácil avaliar a criatividade de um projecto ou de um texto depois dele estar visível. É muito fácil. Difícil é antevê-lo, descrevê-lo antes de ele ser, construí-lo sem plano de instruções, vê-lo antes de ele nascer. Isso dá trabalho. Ou melhor, isso é um trabalho!

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Esta dificuldade de ter uma ideia, por si só já é estratosférica, explicar que essa ideia tem a intangibilidade suficiente de tornar o mundo tangível é do outro mundo.
Ganhar a vida com estas pequenas doses de intangibilidade dá muito, muito trabalho.

Vice-Director

IADE/Universidade Europeia

carlos.rosa@universidadeeuropeia.pt