O 25 de Abril é a pedra de toque da cultura política e democrática em Portugal, onde tudo se reduz.

A polémica que se gerou em torno das comemorações exemplifica isto mesmo: aqueles que defendem a existência das comemorações são de esquerda e amantes da liberdade; aqueles que são contra a existência das comemorações são de direita, e por isso, opressores da liberdade; e por fim, aqueles que sendo a favor das comemorações mas contra a forma como se vão realizar são dissonantes da maioria e, por isso, repetidamente, fascistas.

Esta dicotomia de esquerda-fascista encerra o universo de correntes de pensamento político presentes em Portugal.

Assim, evita-se prontamente discutir o mérito e o conteúdo dessas ideias e quando não estão em uníssono com as ideias da maioria infere-se automaticamente que são fascistas, à boa maneira de um verdadeiro democrata.

Posto isto, a melhor forma de festejar abril é fazer o exercício dessa liberdade através da poesia, isto é, expressão:

Ser-se contra as comemorações de Abril, que reúnem aproximadamente 130 pessoas na Assembleia da República, em contexto de estado de emergência, não é ser-se fascista. É prezar Abril e reconhecer que não deve haver uma liberdade diferente entre governantes e governados, obrigando a população ao confinamento enquanto a classe política celebra a “liberdade” na Assembleia da República. Permitir-se e proibir-se a mesma coisa (isto é, liberdade de se agrupar) em igualdade de circunstâncias (no contexto de uma pandemia) é a expressão da cultura democrática dos nossos governantes.

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Ser-se contra as acções de rua da CGTP no 1º de Maio, negociadas e aceites pelo Governo quando no mesmo dia a liberdade de circulação dos restantes cidadãos vai estar limitada e qualificar esta situação de ser despotismo ideológico, não é ser-se fascista. Trata-se de reclamar uma igualdade de tratamento entre grupos de pessoas iguais, em circunstâncias idênticas.

Questionar a proporcionalidade e constitucionalidade da medida de proibição de deslocações fora do concelho de residência durante o fim de semana do 1º de Maio, fora do âmbito do estado de emergência não é ser-se antipatriótico. Trata-se de reconhecer que em contextos de limitação da nossa liberdade como os estados de emergências, devemos reforçar o nosso sentido critico e de alerta se pretendemos continuar a viver em Liberdade.

Por último, relembrar novembro em abril não é ser-se igualmente fascista. É reconhecer, sem barreiras ideológicas nem branqueamentos históricos, a importância desta data na construção na democracia pluralista e constitucional portuguesa. Celebrar abril sem descurar novembro é, portanto, zelar verdadeiramente pela Liberdade.

Numa época difícil em que se reconhecem tantos poderes extraordinários a um Governo arbitrário que não gosta de prestar contas, em que discordar das medidas políticas adoptadas é tido como antipatriótico, em que cada voz discordante é reduzida a “fascismo”, a Liberdade é questionar quem nos governa, o modo como nos governa e fincar pé quando nos pretendem acríticos, apolíticos e silenciados.