Numa altura em que a Rússia está a ser brutalmente sancionada social e economicamente, devido às barbaridades que presentemente comete, é tempo de refletirmos sobre outros players mundiais relevantes no plano socioeconómico, nomeadamente, a China.
A China tem a maior população, a língua mais falada e o maior exército do mundo, sendo o 4º maior país do mundo em área. O seu povo é multicultural, englobando desde indivíduos devotos ao cristianismo até fiéis seguidores do Taoismo.
Este país, cujo regime é antidemocrático e autocrático, é considerado, em 2022, o mais arriscado para se ser jornalista. Viola, também, de forma constante, desde pelo menos 2014, os direitos humanos de minorias étnicas e religiosas, sendo o caso mais paradigmático o dos Uyghurs.
Existem evidências, descritas através de várias fontes, tanto jornais espalhados pelo globo como grupos de ativistas dos direitos humanos, de que o estado chinês leva a cabo trabalhos forçados com pessoas que pertencem àqueles grupos étnicos e impõe esterilizações e abortos às suas mulheres, retirando-lhes toda a liberdade de escolha. Para além disto, vários prisioneiros que estiveram nos “campos de reeducação” alegam terem sido torturados e sexualmente abusados.
Estatísticas do governo chinês afirmaram que, de 2015 a 2018, as taxas de natalidade nas regiões predominantemente Uyghurs de Hotan e Kashgar caíram mais de 60%. No mesmo período, a taxa de natalidade de todo o país diminuiu 9,69%. Depois de até um tribunal independente, no Reino Unido, ter imputado “responsabilidades primárias” a Xi Jinping e ao PCC pelos abusos a estas minorias muçulmanas que residem maioritariamente na região de Xinjiang, nós, os ocidentais, continuamos impávidos e serenos a relacionarmo-nos com o estado chinês que comete todo este leque de atrocidades e que é controlado pelo Partido Comunista.
Em Portugal, o Governo chinês não apenas tem influência, através de empresas por si detidas, em grandes e importantes companhias nacionais, como a EDP e a REN, como continuamos a aumentar e a dinamizar a nossa dependência económica deste gigante asiático.
A China é hoje a “fábrica do mundo”. Todo o mundo ocidental depende fortemente dela para o seu crescimento económico, maioritariamente por meio da importação dos seus produtos extremamente baratos, com os quais, aliás, nenhum país democrático atualmente consegue competir. As importações da UE provenientes da China, por exemplo, registaram uma taxa média de crescimento anual de 6% entre 2011 e 2021, de acordo com o Eurostat.
Posto isto, a questão fundamental que se coloca é: será moralmente aceitável continuar a negociar e a desenvolver relações com um país cujo regime é menos democrático do que a Rússia? Será que, em nome da prosperidade e melhoria de vida ocidental, devemos continuar a fechar os olhos aos horrores a que aquelas pessoas são submetidas, do outro lado do mundo, apenas devido às suas crenças e tradições, e que em nada prejudicam os seus concidadãos?
Ao fazê-lo, estaremos a aceitar de ânimo leve e, até, a ser coniventes com a perpetuação da repressão e violação de direitos de seres humanos. A economia é o motor da prosperidade das nações, é um facto, mas não devemos aspirar a aumentar a nossa prosperidade, enquanto fim, sem olhar aos meios para atingi-la.
Por fim, é expetável que os governos ocidentais pouco ou nada continuem a fazer em relação a esta matéria, dado que uma inversão da tendência crescente de compras à China significaria um aumento do preço de muitos dos produtos que habitualmente compramos, o que por sua vez provocaria um descontentamento que iria refletir-se nas urnas.
Por tudo isto, é fundamental que nos comecemos a consciencializar relativamente a estas matérias, enquanto eleitores com poder de decisão que somos, mas acima de tudo enquanto seres humanos. Só dessa forma poderemos comandar o rumo para o futuro e inverter estas situações, que, quando narradas, não parecem acontecer no século XXI.