Todos os dias somos permanentemente recordados da importância vital da inovação para o sucesso das empresas e do crescimento da economia. São notícias atrás de notícias, na rádio, na televisão, na imprensa escrita, na internet, com dezenas ou mesmo centenas de artigos sobre como é importante inovar para prosperar, sobre como as novas tecnologias estão a moldar o futuro, sobre como as novas empresas estão a redefinir os mercados ou as fronteiras das indústrias ditas tradicionais e sobre como o mundo caminha a um ritmo acelerado, atingindo proporções de mudança e impacto nas nossas vidas como nunca vimos.
Mas neste artigo vamos dedicar-nos a alguns factos concretos, curiosidades e resultados da nossa economia da inovação no mundo, na Europa e em Portugal para no final traçarmos algumas conclusões e sugerirmos algumas recomendações para o futuro.
Sabia que o maior mercado mundial de capital de risco, em valor absoluto, são os Estados Unidos da América (EUA) com 85% do total do investimento mundial? E que a Europa, no seu todo, representa apenas cerca de 6% deste tipo de investimento em comparação com o mundo?
Sabia que o segundo país no mundo que mais investe em capital de risco, em percentagem do PIB, são… os EUA, com 0,33%? E pensou que em primeiro lugar seria assim, e por exclusão de partes, algum país europeu? Ou Japão? Ou a Coreia do Sul? Ou quem sabe, a China? Não, o país que mais investe no mundo em capital de risco, e em função da dimensão do seu PIB, é Israel, com 0,38%. Aliás, parece que o mercado de capital de risco na Europa teima em não recuperar do impacto da crise… é que os números de 2016 mostram que o mercado de capital de risco continua 35% abaixo da performance registada em 2010!
E já agora, sabia que dentro da Europa, o país considerado mais inovador (métricas do Eurostat) é… a Suíça? A Suíça está à frente de qualquer país da União Europeia, e numa escala de 4 classificações anualmente divulgada pelo Eurostat, Portugal encontra-se no terceiro grupo de inovadores, os ditos “moderados”, à frente dos “modestos” (que são apenas dois, a saber, Roménia e Bulgária), mas atrás dos “fortes” e claro dos “líderes”, ambos os grupos que ocupam a quase totalidade da primeira metade da tabela.
Depois da recente estimativa rápida do INE ter anunciado um crescimento de 2,8% do nosso PIB no segundo trimestre de 2017, o país “quase” rejubilou de alegria. Parece que os tempos do crescimento forte estão de volta, segundo dizem… alguns. Ao ler atentamente a nota técnica do INE, é fácil compreender que o nosso crescimento se deve principalmente à evolução da “procura interna” e não tanto à “procura externa”. Aliás, as recentes Notas Estatísticas do Banco de Portugal atualizaram a informação sobre o endividamento da nossa economia e mostram que, no setor público, a dívida aumentou mais 9,9 mil milhões de euros, enquanto as empresas privadas viram a sua dívida global aumentar 1,3 mil milhões e onde apenas as famílias (os particulares) desceram o seu endividamento com menos 0,3 mil milhões de euros… isto apenas no primeiro semestre deste ano (análise de 31 de dezembro de 2016 a 30 de junho de 2017).
Voltemos à inovação. Portugal tem realizado uma forte aposta na inovação e no empreendedorismo nestes últimos anos. Tem? E mesmo que tenha, quais os resultados? Vamos por partes. Todos os anos o Eurostat analisa a performance da inovação na Europa e nos diferentes estados-membros da União, em torno de dez dimensões, a saber: 1) recursos humanos; 2) atratividade do sistema científico; 3) ambiente de inovação; 4) financiamento e suporte; 5) investimentos empresariais; 6) perfil de inovadores; 7) colaboração entre agentes; 8) ativos intelectuais; 9) impacto no emprego; 10) impacto das vendas.
Sem querer atribuir particular importância a qualquer dimensão em particular, destaco para já aquele que é o “impacto das vendas”, pois mede a performance das exportações de produtos de média e alta tecnologia, a performance das exportações de serviços baseados em conhecimento intensivo e a venda de produtos inovadores no mercado. E porquê? Porque com os investimentos em I&D realizados em Portugal ou com a aposta das empresas na inovação, é esperado algum retorno positivo para a economia ou para as próprias empresas.
Daí que, e em primeiro lugar, importa dizer que na Europa, entre 2010 e 2016, a evolução da performance deste pilar “impacto das vendas” foi quase insignificante, com uma evolução positiva de apenas 3 pontos percentuais… em seis anos. E se olharmos apenas para a performance de Portugal, descobrimos que não estamos a cumprir bem nesta dimensão de resultados. É que Portugal ocupa a quarta posição a contar do fim, entre os 28 estados membros (apenas Hungria, Bulgária e Letónia estão atrás de nós).
Os resultados de Portugal e das empresas portuguesas não são brilhantes, mas também não são dececionantes, no geral. Aos empresários e às empresas portuguesas, aos inovadores que se destacam pelos seus excelentes resultados, é-lhes devido reconhecimento. Mas olhando para o contexto global, é certo que falta ainda fazer muito. Os resultados da União Europeia também não são brilhantes quando analisamos os principais blocos continentais ou os principais países concorrentes. Por exemplo, e considerando o total de investimento em I&D, de acordo com os últimos dados publicados pela OCDE, as sete economias cuja maior percentagem de esforço, nesta componente, cabe às empresas (portanto, considerando o investimento empresarial em I&D no total nacional) são, por ordem decrescente: Israel, Coreia do Sul, China, Eslovénia, Japão, Irlanda e EUA. Atenção que estes dados são de 2013, e muito pode ter acontecido, mas não deixa de ser notório que no “G7” mundial de países onde a proporção do investimento empresarial no total do I&D é maior, apenas dois países pertencerem à União Europeia. E Portugal nesta lista, e num total de 37 países, está no último terço.
Há muito para abordar no tema da performance da economia da inovação. Neste artigo, compreendemos que existem debilidades e fragilidades ao nível de dimensões como o “impacto das vendas”, onde as exportações de produtos e serviços inovadores ainda não permitem a Portugal distinguir-se com ofertas de alto valor acrescentado entre os seus pares mais desenvolvidos. É necessário desenvolver ofertas de maior valor acrescentado, para que o país não capitalize o seu crescimento económico à custa da componente de “procura interna”, da dívida ou de outras ofertas de baixo ou reduzido valor.
Pedro Janeiro é especialista em Inovação na Deloitte Portugal