Nos últimos anos, a política portuguesa tem vivido uma ascensão do populismo, onde a retórica simplista e polarizadora toma o lugar do debate fundamentado. Com promessas fáceis e slogans apelativos, o populismo cria uma divisão entre “o povo” e “as elites”, apresentando-se como um movimento que entende as “verdadeiras necessidades” da população. Esse tipo de discurso explora temas emocionalmente carregados, como segurança, corrupção e imigração, sem oferecer soluções estruturais. Em vez disso, busca apoios rápidos e direciona a insatisfação do eleitorado, canalizando o descontentamento social para gerar uma falsa sensação de ação imediata.

Em Portugal, esse fenómeno reflete-se numa comunicação política que frequentemente ignora problemas mais profundos, como as desigualdades sociais, a precarização do trabalho e o subfinanciamento de áreas essenciais, como a saúde e a educação. O populismo desvia o foco para questões de curto prazo, gerando uma impressão de urgência e ação, enquanto as verdadeiras soluções ficam em segundo plano. Contudo, o populismo instala-se pela omissão de verdadeiros políticos, onde as medidas que propõem e tomam estão sempre numa lógica de catavento, de acordo com os seus interesses partidários e pessoais, da esquerda à direita.

Esta tendência populista não é um caso isolado de terras lusas. Países como Brasil, EUA, Hungria e Polónia, entre tantos outros, também enfrentam movimentos similares, que polarizam a sociedade ao sugerir que apenas líderes “fora do sistema” podem trazer a mudança. No Brasil, o discurso populista concentrou-se no combate à corrupção e na defesa de valores conservadores, enquanto nos EUA o foco foi (é e será) o nacionalismo e o combate à emigração desregulada. Em todos os casos, o efeito é o mesmo: uma crescente desconfiança nas instituições democráticas e uma sociedade cada vez mais dividida.

No passado recente de Portugal, a política era orientada por projetos de longo prazo e comprometidos com o desenvolvimento social e a construção do Estado de Direito. Verdadeiros políticos históricos buscavam unir o país em torno de metas comuns, sem recorrer a promessas fáceis ou divisões populistas. A política tinha um caráter inclusivo e construtivo, em oposição ao cenário atual, onde a confiança nas instituições é abalada pela constante instrumentalização do descontentamento popular.

O desafio atual é reverter essa tendência imediatista e restaurar um compromisso genuíno com o bem-estar coletivo. Como afirmou o sociólogo polaco Zygmunt Bauman, vivemos numa sociedade líquida, caracterizada pelo triunfo da fluidez, do precário, do transitório e do permeável. Precisamos de políticos sérios, com ideologias fortes e não permeáveis ao populismo e à procura incessante do voto futuro, com medo de perderem o poder e o emprego, pois não sabem fazer outra coisa!

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