“Jogar o percurso como o encontrar e jogar a bola como esta estiver”. Esta é a primeira regra do golfe, modalidade que atrai milhares de turistas ao nosso país, gera quase dois mil milhões de euros para a economia, rende mais de 140 milhões de euros em impostos para os cofres do Estado e que é responsável por mais de 16500 postos de trabalho. A primeira regra da prática desportiva do golfe não é, contudo, a primeira regra de quem gere os campos de golfe, isto é, de quem pratica o jogo da gestão clássica, mas também da gestão das expetativas dos praticantes. Com efeito, os golfistas internacionais que nos visitam, são clientes crescentemente exigentes e criteriosos nas suas escolhas. São praticantes que gostam de estar ao ar livre, da proximidade com a natureza, que valorizam as boas práticas ambientais, que apreciam a biodiversidade que os campos de golfe conseguem potenciar, que estão conscientes das alterações climáticas e de como é importante cuidar do ambiente hoje, para preservá-lo para as gerações de amanhã.
Ora, isto significa, portanto – fazendo a analogia com a regra número 1 do golfe – que quem gere um campo de golfe não o pode deixar como encontrou e não pode continuar a geri-lo como ele estiver. É justamente o oposto! Quem gere um campo de golfe tem o dever de afinar ao máximo o binário qualidade/eficiência, ou seja, deve procurar ter o melhor campo possível com o menor consumo de água possível. Para tanto precisa de inovação, tecnologia, competência, investimento e conhecimento. O compromisso com a sustentabilidade é um compromisso muito sério. Os campos de golfe, com os devidos incentivos financeiros e com políticas públicas adequadas, podem ser um agente ainda mais dinâmico no combate às alterações climáticas. O golfe, mais do que de críticas, precisa de apoios, para que estas adaptações a novos padrões de sustentabilidade ambiental não ponham em causa esta, que é uma modalidade desportiva ímpar e um dos mais importantes motores do turismo nacional.
A profunda viragem que o setor do golfe iniciou no final da última década do século passado deve ter continuidade, nesta época que exige maior ação climática, capaz de mitigar e reverter a alteração das temperaturas, a redução da água disponível e a exposição a fenómenos meteorológicos extremos. No caso específico do Algarve, que antes da pandemia registava um assinalável aumento de procura, obrigou organizações e técnicos a implementarem soluções que, mantendo a qualidade do produto golfe e a satisfação das necessidades do cliente, procurassem, ao mesmo tempo, reduzir os efeitos ambientais da operação e manutenção dos campos, nomeadamente, em matéria de gestão da rega e do uso mais eficiente da água. Reduziram-se as áreas irrigadas sem perder área de jogo, substituíram-se relvas de climas frios por espécies de clima quente, mais resistentes a condições climatéricas mais desfavoráveis, menos consumidoras de água e mais tolerantes ao pisoteio, fizeram-se centenas de avaliações do desempenho energético, auditorias e programas de monitorização a sistemas de rega e drenagem, estações de bombagem, estações de filtragem e investiu-se fortemente em sistemas de gestão inteligente de rega, que, com base em informação em tempo real das estações meteorológicas e de sensores, fornecem indicações precisas para uma rega mais eficiente e com melhores resultados.
Estas medidas permitiram uma redução dos consumos e uma gestão mais eficiente e eficaz dos sistemas de rega, com perdas quase nulas. Gasta-se hoje muito menos do que se gastava há dez anos. E daqui a dez anos, seguramente, gastar-se-á menos do que se gasta hoje. De acordo com dados da Agência Portuguesa do Ambiente, o volume de água captado pelo setor do golfe no Algarve (cerca de 40 campos de golfe) corresponde, em média, a 15,2 hm3/ano. O consumo agrícola nesta região (134 hm3) representa 57% dos consumos totais do Algarve.
O golfe gera, anualmente, naquela região do país, um valor acrescentado bruto de cerca de 500 milhões de euros. A agricultura contribui com 120 milhões de euros. É fazer as contas. Apesar de já ser, por comparação, mais sustentável do que outras atividades económicas, o golfe quer continuar a fazer mais e seguir os bons exemplos de dois campos de golfe do Algarve que, já há largos anos, são regados com água residual tratada, com origem em ETAR’s localizadas na sua envolvente. A utilização de água residual proveniente das ETARs, desde que devidamente tratada e que ofereça garantias de qualidade e segurança, é uma excelente forma de aportar mais sustentabilidade ao golfe, com benefícios ambientais e económicos imediatos e evidentes.
Concluo, relembrando que Portugal foi eleito, durante 5 anos consecutivos, “Melhor Destino de Golfe do Mundo”, nos World Golf Awards. Do lado da Federação Portuguesa de Golfe estamos apostados em perseguir o primeiro lugar do pódio, não só porque somos o melhor destino, mas também o mais sustentável.