As pessoas que nos garantem jovialmente que se pode ensinar a ensinar são como as pessoas que garantem que se pode ensinar a gostar, a causar, ou a ter: não acham nada de especial usar o verbo transitivo ‘ensinar’ de modo intransitivo. A quem recomenda que se ensinem os professores a ensinar a pergunta sensata é não obstante ‘Ensinar o quê?’ E se essa pessoa insistir em que basta ensinar a ensinar, a resposta sensata é ‘Depende.’ E a resposta sensata à pergunta ‘Depende de quê?’ é ‘Daquilo que se ensina.’
Ninguém sabe ensinar sem que saiba ensinar alguma coisa. Um professor tem de saber necessariamente aquilo que ensina, mas não precisa necessariamente de aprender a ensinar aquilo que sabe. É também impossível aprender sem aprender qualquer coisa. Nas aulas de ilusionismo e nas licenciaturas em engenharia de ilusionismo os alunos e os professores aprendem e ensinam a tirar coelhos da cartola e a serrar senhoras ao meio; mas nos mestrados em ensino do ilusionismo ninguém ensina nada e ninguém aprende nada. A ciência do ensino não é uma ciência. Ensinar a ensinar consiste apenas em pessoas que sabem ensinar uma coisa a corrigir pessoas que estão a tentar ensinar essa coisa.
As únicas discussões acerca de ensino que valem a pena são discussões acerca daquilo que se deve ensinar, e daqueles a quem se pode ensinar. Ocorre quase sempre nessas discussões uma segunda confusão, que é o contrário da primeira. A segunda confusão consiste em dar certas razões transitivas para aquilo que se ensina. Ouve-se assim dizer que se ensina física para que aconteça alguma coisa boa àqueles a quem se ensina física: para que quem aprende física venha a ser um profissional capaz, um cidadão consciente ou um bom pai de família.
Nunca podemos todavia ter a certeza daquilo que vai acontecer a quem aprendeu física: muitos físicos abandonam os filhos e confundem os lixos. Aquilo que se aprende tem uma relação incerta com o que nos acontece na vida. O que acontece na vida não foi ensinado, e não é aprendido. Segue-se que não deve ensinar-se física por causa daquilo que achamos que pode acontecer a quem aprende física; e que só vale a pena ensinar física por causa daquilo que a física é.
Quase toda a gente se queixa hoje do ensino, e todos propõem remédios parecidos. Acha-se que aprender faz sempre bem a quem aprende, e que os professores deviam ser ensinados a ensinar antes de começarem a ensinar. É por isso que se acredita quase sempre na ciência da educação, que não é numa ciência. Sem surpresa, a teoria maioritária parece ser a de que é possível ensinar sem ensinar nada em particular, para que, aprendendo sem aprender nada em particular, se melhorem as opiniões políticas, o desempenho profissional, e as convicções principais da população.