No famoso diálogo irónico de ‘A Vida de Brian’ dos Monty Python, é colocada a questão: ‘Para além das infraestruturas, medicina, educação, agricultura, ordem pública, estradas, água e saúde, o que é que os Romanos alguma vez fizeram por nós?’ Esta mesma pergunta convida a uma analogia paralela em relação à Europa.

Quando se comemora o Dia da Europa e a um mês das eleições europeias, um estudo revelado há poucos dias pela DECO Proteste veio confirmar uma opinião generalizada por estudos anteriores de que os portugueses têm das avaliações mais positivas sobre a atuação da União Europeia nos últimos anos. Mas simultaneamente, apenas 24% dos inquiridos revela conhecer bem o modelo de funcionamento Europeu.

Dúvidas de como trabalham as instituições europeias, incluindo o próprio Parlamento Europeu, ou a forma de aprovação das diretivas, são as questões mais apontadas. E o estudo aponta ainda que essa ausência de informação é motivo para que um terço dos inquiridos não pretenda exercer o direito de voto no próximo mês.

Ora, numa Europa que queremos mais coesa e necessariamente mais forte face a novos blocos que se estão a impor pela força, onde cada estado-membro tem um papel claro, com a eleição direta de deputados, tem de ser fortalecida a relação dos eleitores com as instituições.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O trabalho no Parlamento Europeu é fundamental para a vida dos cidadãos de todos os estados-membros. Saberão os portugueses que decisões como as regulamentações ambientais que visam reduzir as emissões de carbono e garantir o cumprimento dos padrões estabelecidos pelos países membros da UE se discutem no Parlamento Europeu? E que este trabalho extravasa as fronteiras da Europa, como na defesa dos direitos humanos e na promoção da democracia, com a monitorização de processos eleitorais em diferentes países em desenvolvimento, ou no combate ao tráfico de seres humanos? Estes são papeis fundamentais que a Europa, através dos eurodeputados, tem vindo a assegurar.

Mas também ao nível de governos, esta distância face a Bruxelas arrisca perpetuar-se, por exemplo em decisões que acentuam este afastamento — aliás ainda recentemente apontadas pelo anterior Primeiro-Ministro – como a de colocar os assuntos europeus na alçada dos Negócios Estrangeiros. Ora Bruxelas não está mais longe de Lisboa do que Seattle está para Washington, ou de Cantão para Pequim e no entanto, insistimos que a Europa está distante, não é Portugal e é difícil de entender.

É verdade pois, que as instituições europeias têm também de evoluir, de ser mais rápidas a responder às exigências dos europeus. Precisam de sangue novo, de menos burocracia e até de mais digitalização. Mas essa é uma tarefa também de Portugal.

Quantos lugares europeus temos preenchidos por portugueses em funções de decisão? Somos considerados exemplo em tantos domínios, da tecnologia ou na própria diplomacia e no entanto, volvidos todos estes anos, ainda temos um caminho para aumentar o nosso espaço na Europa e afinal, aproximar Lisboa de Bruxelas ou de Estrasburgo.

A Europa tem de ser muito mais do que uma instituição financeira que reconhecemos nos logótipos de investimento em tanto do nosso progresso. É um exemplo construído do nosso sucesso coletivo, mas também os estados têm de comunicar a Europa de uma forma diferente: mais simples, mais clara, com uma nova linguagem que chegue a todos, de forma mais próxima e sobretudo mais presente. Não pode ser apenas de 4 em 4 anos ou mais até quando falamos em PRR ou de outros fundos.

Ser europeu representa valores, história comum, democracia, competitividade e inovação. A Europa fez e faz muito por nós todos os dias, mas é um compromisso coletivo, que sabemos ser cada vez menos garantido.