Na sequência do excelente artigo do meu amigo Bernardo Theotónio-Pereira, publico este em resposta, complementando-o com uma visão ligeiramente diferente.

Apesar do artigo ser certeiro na mensagem principal, parece-me uma visão pensada por apenas uma parte da população (nomeadamente, um quarto da população), esquecendo outros movimentos sociais importantes. Julgo que os nossos políticos (inclusive europeus) não perceberam o essencial: as pessoas estão fartas de chavões e discursos ensaiados e vagos que, no geral, não compreendem. Diz o Bernardo, e com razão, que votaram apenas 40% dos Portugueses. Tanto em Portugal como na Europa cresce a abstenção, o descontentamento e o voto em extremismos.

O que temos de nos perguntar é porquê? O que quer realmente um cidadão comum? Como atrair a população descontente ou desinteressada?

Longe vão os tempos em que admirávamos discursos de verdadeiros estadistas. Hoje, fazemos fretes a qualquer um.

Sim, o Bernardo acerta quando diz que as pessoas querem uma (1) renovação do sistema político, (2) visão para o país, (3) transparência, (4) estabilidade, (5) competitividade, etc. Mas esses chavões já nós ouvimos há muitos anos, fazem parte integrante das dezenas de discursos de campanha ou de vitória dos diversos candidatos políticos desde o 25 de Abril. Não tenho dúvidas que o “polígrafo” encontraria Mário Soares, Cavaco Silva, Guterres, entre outros, a prometer isto tudo.

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No entanto, se analisarmos de forma simples e rápida a realidade, o que temos é:

  1. Sobre o nosso PIB per capita, indicador mais relevante para definir a economia de um país, Portugal na UE27 (sem o Reino Unido) desceu da 15ª posição para a 19ª, entre 1995 e 2019. Dentro de poucos anos seremos ultrapassados pela Polónia, Eslováquia, Hungria, Roménia e Letónia, ficando apenas à frente da Grécia, Croácia e Roménia.
  2. No que toca ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), um dos principais índices para medir a qualidade de vida de um país, Portugal caiu para a 38ª posição em 2019, quando já ocupou a 32ª posição em 1993 (já foi 43º, em 2008)
  3. No índice de Gini, principal indicador de desigualdade social, somos o 5º pior da UE27, apenas à frente da Lituânia, Letónia, Roménia e Espanha
  4. Tivemos três bancarrotas desde o 25 de Abril: 1979, 1983, 2011
  5. Com este regime e personagens do pós-25 de Abril, tivemos consecutivos aumentos de impostos e pouca reformulação do Estado. A consequência foi passarmos de uma carga fiscal na economia de 24%, em 1985, para 35%, em 2020. Por outro lado, o peso do Estado passou de 42%, em 1995, para 50%, em 2020.
  6. Tivemos, só recentemente: Freeport, Monte Branco, Operação Marquês, incêndios, SEF, nepotismo generalizado, Tancos, entre milhares de outros escândalos.

Poderia estar aqui a listar outras dezenas de indicadores. Todos sabemos e sentimos: estamos pior. Estamos com menos poder de compra, maior carga fiscal, menos oportunidades, preços crescentes. E, como cereja no topo do bolo, vemos escândalos atrás de escândalos na TV e os mesmos de sempre com as mesmas soluções vagas, sem mudarem nada na realidade.

Assim pergunto: vale a pena acreditar na mesma solução? Parece-me que já chega.

Sim, também precisamos de (6) trabalho, (7) família, (8) cuidar, (9) Estado Social (10) eficiente, (11) regulador e (12) sério. Precisamos dessas 12, obviamente, mas precisamos, essencialmente, de menos abstração e de mais pragmatismo, acção e mudança para inverter esta espiral negativa em que nos encontramos, no mínimo, há 20 anos.

Assim, não espanta que 60% dos eleitores não tenham votado, que 50% nunca votem e que outros 5 a 10% votem noutras forças políticas. É com grande esperança que vejo a IL crescer, o movimento +liberdade aparecer oportunamente para trazer novas ideias, discursos e discussões ao Parlamento. Mesmo quem vote “chega”, que não admiro, fá-lo por descontentamento pelo regime actual.

Sim, Marcelo Rebelo de Sousa foi e será um bom Presidente. Era de longe o melhor candidato. Mas não será ele que ajudará Portugal a mudar. Se assim fosse, o que fez o Presidente por Portugal nos últimos 40 anos? Chavões.

Outro exemplo do que falo, desta vez vindo do CDS: o Chicão. Porque não está ele a ser bem-sucedido (ao contrário de Ventura)? Porque, apesar de jovem e de ser uma cara nova, não traz nada de novo. Ninguém quer mais do mesmo. O Português comum quer algo radicalmente diferente. Mais liberdade económica e social, mais justiça, melhor educação.

O resultado de Marcelo é claro, mas é inequívoco que os novos movimentos não se podem menosprezar e que vêm para ficar, quer seja na forma da actual IL, do Chega, ou de outro movimento que venha no futuro. Linguagem actual, moderna, clara, pragmática. Medidas concretas e inovadoras. E, naturalmente, que estas palavras novas se transformem em actos. Actos que resolvam a burocracia do Estado, baixem impostos, agilizem processos e decisão individual de cada um, combatam verdadeiramente a precariedade e que aumentem a produtividade do país para aumentar o salário médio nacional (pode parecer estranho, mas é mais importante do que o salário mínimo nacional).

Alguns Portugueses ainda preferem mais do mesmo, mas muitos outros querem um país diferente, com protagonistas diferentes, com novas ideias.

Porque, como se diz na gíria (e não Einstein): insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes.