É cada vez mais assente nos países do Ocidente que não existem diferenças entre homens e mulheres e que, por exemplo, se alguém do sexo masculino se “identifica” como algo, que não tem que ser necessariamente uma mulher, então essa pessoa passa a ser, é, ou sempre foi, esse “algo”. Uso a palavra “algo” sem qualquer tom depreciativo já que, se é verdade que há seres humanos de um determinado sexo que se identificam como sendo do género oposto, também os há os que se identificam como uma pluralidade (reclamando o uso de pronomes nesse sentido) ou até como pertencendo à espécie animal: se aquilo com que me identifico é a realidade então, o céu é o limite. O corpo, afinal, já não comunica a identidade do ser.

Esta é, contudo, uma inovação, já que durante séculos sempre se identificou o género com o sexo. Porquê? Segundo consta por uma decisão arbitrária que, à nascença, determina o género de um bebé, e o que sempre resultou da natureza e da Mãe Ciência afinal já não é bem assim… O sexo corresponde a um conjunto de características biológicas enquanto o género é uma construção social.

Enfrenta-se, hoje, a até agora evidente conclusão da ciência (da genética, da endocrinologia e da neurologia) acerca da diferença sexual entre homem e mulher. Com efeito, parece que na genética sempre se ensinou que o sexo é imutável e que as células do homem (com os cromossomas XY) são diferentes das células da mulher (com os cromossomas XX), o que, agora, não é assim tão relevante. Tenta-se superar a diferença entre masculino e feminino, ambicionando-se uma ambiguidade que, ironicamente, pressupõe aquela diferença sexual que se pretende negar.

Dito isto, o que é uma mulher?

Segundo a Teoria do Género, o género supera o sexo. E isto aprende-se não da ciência, mas da experiência de mulheres trans que, apesar de fisicamente se assemelharem a um homem, isso não os define. Conclusão: uma mulher trans é uma mulher. Mas se basta afirmar-se como mulher para ser mulher, o que é, realmente, na verdade, uma mulher? Segundo consta, é mulher quem se identifica como uma mulher. Mas isto é uma definição circular, que, ao incluir o definido na definição, nada nos diz. E significa, também, que os pensamentos têm um poder transformador da natureza.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O passo seguinte passa por tornar a aparência (o corpo) conforme com a realidade (a identidade de género), transformando-se as características físicas do homem para se adaptar melhor à sua identidade de género feminina. E, portanto, as mulheres transgénero são mulheres apesar de terem um “passado transgénero”. Esta é, por exemplo, a conclusão de Marci Bowers, responsável por mais de 2000 cirurgias de mudança de sexo, e que apesar de ter nascido homem se identifica, e se assemelha fisicamente, a uma mulher.

À pergunta do que é uma mulher, Marci Bowers responde que é uma combinação de atributos físicos e do que se mostra ao mundo e as pistas de género que se dá que, desejavelmente, correspondem à sua identidade de género.

Para outros, o transgenerismo é um intenso desconforto com o sexo biológico, que, segundo algumas estatísticas se verifica numa em cada 30.000 pessoas ou numa em cada 100.000. E isto é diferente do que acontece com cada vez mais regularidade que é crianças sem qualquer desconforto com o seu sexo biológico afirmarem-se como tendo outro género. Segundo esta orientação, se o sexo é genético, imutável, e se baseia em cromossomas, e o género, pelo contrário, é uma perceção, um sentimento e uma forma de se identificar que é uma experiência, sendo, portanto, totalmente subjetivo, então, não é por um homem se afirmar como mulher que o passa a ser.

Dito isto, importa apontar dois marcos importantes na história da Teoria do Género.

O primeiro remonta ao caso dos gémeos Bruce e Brian Reimer nascidos em 1965. Quando os gémeos tinham 8 meses de idade, e foi necessário circuncisá-los ocorreu um acidente que impossibilitou que Bruce fosse visto como um rapaz. Surgiu então a oportunidade de John Money, psicólogo e professor da Universidade de Hopkins, aplicar as suas teses, resolvendo transformar fisicamente esse rapaz numa rapariga e educá-lo como sendo uma rapariga. Isto porque, para John Money, os bebés à nascença são neutros do ponto de vista do género e, em última análise, é o ambiente que determina se uma pessoa é homem ou mulher. Segundo esta tese aquele bebé, “bem-educado”, conseguiria ser uma rapariga. Bruce passou a Brenda e foi educado como uma rapariga. Apesar de em 1975, John Money ter publicado um estudo dando conta do seu sucesso, Bruce nunca aceitou a sua identidade feminina e quando atingiu a puberdade começou a ter pensamentos suicidas. Perante isto os pais não tiveram outra opção se não contar-lhe a verdade. O passo seguinte foi voltar a fazer a transição para o sexo masculino. O resultado final, foi, como se antevê, um desastre. Bruce teve uma grave depressão e acabou por se suicidar em 2004 com 38 anos de idade.

O primeiro contributo deste marco parece ser, portanto, que um rapaz é intrinsecamente masculino mesmo que seja educado como uma rapariga e se assemelhe a uma fisicamente.

O segundo marco prende-se com algo que é cada vez mais comum e que se prende com a participação de pessoas transgénero (do sexo masculino) em competições desportivas de mulheres. Por mais estranho que pareça, há, neste campo, quem alegue haver total igualdade entre os participantes. É o caso de Rodrigo Heng-Lehtinen, Diretor Executivo do National Center for Transgender Equality, e de Marci Bowers para quem as mulheres trans não têm nenhuma vantagem competitiva face às restantes mulheres e que no final do dia é tudo uma questão de treino.

Apesar de haver um evidente desprezo e discriminação das mulheres neste campo parece que valores mais altos se levantam e que, no futuro, apenas teremos competições de homens e, do outro lado, competições de pessoas trangénero. Creio, contudo, que a realidade pode ser cruel, e que torna por de mais evidente que não é justo que um “ex-homem” possa ser “campeão” entre mulheres. No mundo do desporto, homens e mulheres não têm o mesmo ponto de partida, não sendo, por isso, justo que homens compitam com mulheres. E não têm o mesmo ponto de partida porque a realidade e a ciência se impõem e só nos deixam concluir que homens e mulheres são diferentes.

Por muito que se escreva, uma imagem vale mais que mil palavras e os factos que acabei de contar só parecem aceitar uma conclusão.

No que respeita à diferença entre homens e mulheres há factos que, apesar de agora certas elites “esquecerem”, são conhecimento popular e sedimentado. Com efeito, uma das traves mestras da história dos diferentes movimentos feministas é que ser mulher (ter os cromossomas XX) é algo imutável e intrínseco. Assim, a afirmação moderna de que isso não é verdade, mas sim o resultado de um desempenho social reiterado, veio ameaçar a causa feminista. Deixou as mulheres sem defesa contra homens que argumentavam poder ser mulheres. E a verdade é que a tentativa de tornar o sexo (ou o género) numa coisa mutável tem um impacto muito mais doloroso nas mulheres do que nos homens.

Esta nova teoria obriga-nos a acreditar que as mulheres são diferentes do que sempre conhecemos, sugerindo que tudo o que todos sabíamos até ontem era uma miragem e que o conhecimento que herdámos sobre as diferenças entre mulheres e homens é falso. Hoje, espera-se que alteremos radicalmente as nossas vidas e a sociedade em que vivemos com fundamento em afirmações que os nossos instintos nos dizem ser claramente falsas.

Com efeito, a premissa base de que ser mulher é o resultado de certos comportamentos sociais é algo inaceitável para muitas mulheres e movimentos feministas.

Um exemplo interessante é o de Julie Bindel, que, para além de ser uma mulher homossexual foi, durante muito tempo, considerada uma corajosa feminista. No princípio deste século Julie Bindel reparou que pessoas que antes eram homens e agora exigiam ser consideradas mulheres começavam a atentar contra o que sempre foi uma das suas causas.  Em 2002 Bindel foi particularmente critica da decisão o Tribunal de Vancouver, no Canadá que determinou que uma mulher transexual deveria poder ser mentora de mulheres vitimas de violação. Apesar de mais tarde o Supremo Tribunal de Vancouver ter revertido a decisão, para uma feminista como Bindel, a ideia de que mesmo em casos de violação uma mulher não podia ter a certeza de que a mulher que a ajudava era de facto uma mulher era uma linha que não podia ser ultrapassada.

Sobre isto, importa ainda notar que as causas dos movimentos feministas passavam, em especial, pela luta contra a estereótipo do que uma mulher podia, ou devia ser. Ora, esta luta é, na prática, e quando nos movemos para as transformações que se encetam, contrária à Teoria de Género que apenas parece reforçar (em vez de contrariar) as construções sociais de género.

Como em tudo há uma tendência para argumentar com as verdadeiras exceções de pessoas, que, verdadeiramente, têm um problema de identidade e que é difícil dizer, no plano da realidade, se são homens ou mulheres. Não nego esses casos, mas rejeito a solução de se generalizar a exceção.

Termino com uma explicação de Jordan Peterson, que, apoiando-se no facto de o sexo ser binário defende que quando as pessoas falam da diversidade de género na realidade estão-se a referir à diversidade de personalidade e temperamento (estes já não binários). Tendo isto em conta, e uma vez que as diferenças de temperamento entre homens e mulheres não são tão grandes, o que acontece, a mais das vezes, e é normal, é que existem mulheres com temperamento masculino e vice versa.