Analisando a última década do SC Braga, podemos observar a conquista de duas taças de Portugal e duas taças da Liga, e uma presença numa final europeia. A mais recente conquista deste fim-de-semana, traz de volta a questão entre os amantes do futebol em geral, e os adeptos do clube em particular: para quando um SC Braga capaz de disputar ombro a ombro a liga com os tradicionais três grandes do futebol português?
Vivemos numa era em que a dimensão económico-financeira dos clubes determina em grande parte a capacidade competitiva das suas equipas. Neste campo, o SC Braga tem vindo a fazer um caminho muito interessante. Basta para isso verificar que nos últimos 5 anos, o seu ativo tem crescido, em média, 39% por ano. No mesmo período, isso tem-se refletido num aumento médio do valor do plantel de 11% por ano, e num aumento médio do valor contabilístico do seu plantel de 39%por ano.
Contudo, quando comparamos a sua realidade económico-financeira com a dos três grandes, percebemos que é (ainda) bastante diferente. Por exemplo, o SC Braga recebe 6 vezes menos em direitos de transmissão televisiva que o FC Porto, tem 3,3 vezes menos rendimentos operacionais que SL Benfica, e gasta em ordenados dos seus jogadores menos 2,8 vezes que Sporting CP. Por muito bem que o seu departamento de marketing trabalhe, e por muito talento que o SC Braga consiga vender, o somatório dos seus rendimentos operacionais e extraordinários serão sempre muito inferiores aos dos três grandes.
O limite dos rendimentos, sobretudo os operacionais, que a SAD bracarense pode ambicionar obter estão diretamente relacionados com o valor da marca SC Braga. Esta mede-se pela quantidade de pessoas com que o clube comunica, impacta e influencia os seus padrões de consumo. Obviamente, esta influência social tem, sobretudo, uma dimensão histórica e cultural que não se muda em 2, 3 ou 10 anos. Basta notar que o SC Braga tem hoje aproximadamente 30.000 sócios, enquanto SL Benfica tem 233.000, Sporting CP 160.000 e FC Porto 127.066 sócios. Ou seja, o potencial das marcas dos três grandes é totalmente diferente da marca SC Braga, limitando as receitas da sua SAD e a capacidade competitiva das suas equipas.
Então que deve o SC Braga fazer para encurtar estas diferenças? Tal como Carlos Carvalhal disse após a conquista da taça, deve continuar a trilhar o caminho desta última década. Em pormenor, existem três pilares estratégicos fundamentais para o seu sucesso futuro que devem (continuar a) ser desenvolvidos: (i) do ponto de vista desportivo, deve fortalecer a sua identidade de jogo, alavancada em perfis de jogador e treinador muito específicos. Deve continuar a formar e lançar talento, e maximizar os seus rendimentos em transferências de jogadores de futebol; (ii) do ponto de vista comunicacional, deve assumir uma estratégia de aumento do número de adeptos a nível nacional e não somente distrital, suportado numa comunicação digital com conteúdos dinâmicos, positivos e exclusivos dirigidos (sobretudo) à geração Z; e (iii) do ponto de vista político, deve assumir-secomo um clube transformador da (pobre) realidade do futebol português, liderando uma liga suportada nos clubes não grandes. Deve capitalizar a mais recente aprovação da centralização dos direitos de transmissão televisiva e oferecer uma alternativa positiva ao (futuro do) futebol português. Esta estratégia deve ser consistente ao longo do tempo, sobretudo aquando das derrotas, marcada por um discurso elevado e de valor acrescentado.