Depois de o Procurador-Geral da Republica, Rodrigo Janot, ter defendido a continuidade da investigação a Michel Temer por considerar que a gravação que incrimina o Presidente é audível e confiável, poucas dúvidas restarão de que será infrutífera a tentativa de Temer para que o Supremo Tribunal Federal suspenda o inquérito.

Prova desse desenlace foi o cancelamento do jantar de apoio, convocado pelo ministro Antonio Imbassahy, a mandado do Presidente, e que deveria ter ocorrido este domingo no Palácio da Alvorada. O fim-de-semana passado no Estado de origem e problemas com os transportes serviram de desculpa para a não comparência da maioria dos líderes que sustentam a presidência e dos seus ministros. Uma explicação que precisa de muito boa vontade – ou ingenuidade – para colher.

Na verdade, é do conhecimento público que o principal parceiro de coligação, o PSDB, que detém quatro pastas ministeriais e conta com 47 deputados e 10 senadores, não está interessado na continuação de Temer. Uma atitude que encontra respaldo noutros partidos que fazem parte da atual solução governativa.

Resta saber qual a estratégia a seguir. Convencer Temer a abdicar? Tentar influenciar o Tribunal Superior Eleitoral para cassar o mandato a Temer no processo em está indiciado e que remonta ao processo eleitoral que levou Dilma à presidência? Desencadear os mecanismos legalmente previstos para o impeachment?

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Quanto à primeira hipótese, Temer já deixou claro que não está disposto a abdicar, uma vez que se sente vítima de uma conspiração.

Relativamente à segunda possibilidade, há muito que se percebeu que o poder judicial nem sempre está alinhado com os detentores do Poder e, no caso em apreço, muito por força dos mais recentes desenvolvimentos, não parece recetivo às vozes que lhe gostariam de sussurrar ao ouvido.

Resta, por isso, o recurso ao impeachment. Uma exceção que ameaça tornar-se regra no continente americano. Uma decisão que pode obrigar Temer a beber do veneno que ajudou a servir à sua antecessora.

Nessa eventualidade, agora como então, a decisão dificilmente irá no sentido da manutenção do Presidente.

Por isso, as direções dos principais partidos já estão a analisar a solução que melhor serve os seus interesses. Interesses pessoais e partidários. Quanto ao interesse nacional, aquele de onde tudo deveria derivar, a reflexão continuará adiada. De momento, na ótica partidária, há que resolver com celeridade. Mesmo que a solução volte a ser marcada pela temporalidade a curto prazo.

Eleição indireta como prevê a Constituição face ao tempo que resta do mandato presidencial?

Diretas já como gritam alguns políticos, designadamente Lula da Silva que, malgrado estar a contas com a justiça, sonha regressar ao poder? (Segundo alguns, para tentar controlar os processos em que está envolvido. Segundo outros, maioritariamente militantes do PT, para repor a verdade.)

O constitucionalista alemão Karl Loewenstein considerava que havia três tipos de constituições – normativa, nominal e semântica – e que só na primeira existia adequação entre o texto constitucional e a realidade social. Não é o caso brasileiro.

O que tem Temer a temer? Tudo! Obviamente.