Cresci muito perto das minha avós – uma distribuidora de pão e a outra proprietária de uma mercearia – onde “trabalhei” nos tempos livres e férias. Esses anos mostraram-me a felicidade na interação com pessoas. Era uma experiência que eu apreciava profundamente.

Ironicamente, apesar dessas inclinações iniciais, uma carreira em vendas nunca tinha passado pela minha cabeça. Naquela época, a educação formal em vendas era virtualmente desconhecida, uma situação que pode ser compartilhada por muitos líderes de vendas bem-sucedidos nos dias de hoje. No entanto, o destino tinha o seu próprio designio e foi onde descobri algo que realmente amo fazer: ajudar as pessoas a comprar aquilo que precisam. Esta mudança de pensamento revolucionou minha abordagem às vendas. Já não se tratava apenas de executar transações, mas de forjar conexões autênticas com pessoas que genuinamente queriam os nossos serviços.

Era o ano de 2015, e eu considerava uma carreira em Marketing ou Negócios Internacionais – a minha área de formação. Surgiu uma oportunidade para assumir o departamento de vendas de uma empresa de desenvolvimento de software. Marketing e vendas, pareciam destinados a uma convergência. Implementei uma estratégia de marketing inbound, firmemente ancorada na criação de conteúdo para atrair potenciais clientes. Simultaneamente, aventurei-me em eventos de networking. À medida que a poeira assentava, uma revelação profunda tomava conta de mim – a construção de redes exercia a verdadeira transformação de resultados.

O que emergiu desse esforço foi mais do que uma simples rede; era um ecossistema dinâmico de parcerias, onde os contactos/clientes começaram a recomendar-nos para  projetos que se alinhavam perfeitamente com nossas competências. Um sistema de referência ganhou raízes, florescendo sobre o alicerce de um trabalho excepcional e de relacionamentos profundamente enriquecedores.

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Ao escrever percebo que pareça demasiado simples, mas não é e não proporciona resultados imediatos; exigiu tempo e consistência. Hoje, como CEO da minha própria empresa, assumo o chapéu das vendas (entre muitos outros), assim como todos fazem quando têm uma verdadeira paixão por algo. Vender não é algo exclusivo a vendedores, sou apoligista que todos nós vendemos algo físico ou imaterial.

As vendas, historicamente caracterizadas como um sector dominado por homens, estão a passar por uma transformação no setor de tecnologia. As mulheres representam menos de um terço da força de trabalho na maioria das indústrias de vendas business-to-business, no entanto em departamentos como Customer Success Manament são a maioria. Estatísticas recentes destacam uma narrativa convincente – uma que enfatiza o desempenho consistente das mulheres nas vendas. Um estudo realizado em 2019 revelou que, enquanto os homens cumpriam as quotas com uma taxa de 78%, as mulheres demonstravam uma impressionante taxa de sucesso de 86%.

Num mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, o valor intrínseco da conexão humana assumiu uma importância central. As mulheres, dotadas de suas habilidades únicas – capacidade de adaptar soluções, ajustar a contextos dinâmicos e manifestar empatia genuína – estão a capitalizar esses atributos para deixar a sua marca. Além disso, no cenário pós-Covid-19, com o aumento das oportunidades de vendas remotas em tecnologia, permite às mulheres prosperarem sem comprometer os seus valores familiares.

Para aquelas que contemplam uma carreira em vendas ou que já o fazem, na minha experiência uma lição atemporal persiste – a autenticidade é o selo indelével do sucesso duradouro. As mulheres estão a romper fronteiras nas vendas de tecnologia, transformando uma indústria que, outrora, era predominantemente ocupada por homens. À medida que continuam a se destacar e a trazer as suas habilidades únicas para o primeiro plano, o formidável poder da empatia irá redefinir as vendas de tecnologia para melhor.

Andreia Martins, co-proprietária da Codepoint, leva a tecnologia portuguesa para o
mundo com uma década de experiência em vendas.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.