Dia 1 de novembro de 2024 marcou o fim da coligação semáforo entre o SPD (Partido Socialista Alemão), os verdes e o FDP (Democratas livres). Este acontecimento gerou várias reações nas redes sociais, principalmente no X, rede social de Elon Musk. O próprio foi um dos grandes críticos do fim da coligação, publicando a frase “Olaf ist ein Narr!”, que significa “O Olaf [Scholz] é um tolo!“.

Após o trágico acontecimento no mercado de Natal em Magdeburg, Musk voltou a criticar Scholz, referindo-se ao primeiro-ministro alemão apelidando-o de “tolo incompetente” e afirmando que apenas o AfD (Alternativa para a Alemanha) pode salvar o país. Musk defendeu de novo esta posição num artigo publicado a 29 de dezembro no Jornal Welt, na sua edição especial de domingo.

Estas posições do multimilionário americano geraram vários comentários negativos vindos de todos os partidos, menos da AfD, que recebeu Musk de braços abertos, convidando o multimilionário para uma conversa. Todos estes comentários têm algo em comum: todos os comentários entregam mais votos ao partido de Alice Weidel, que não considera o seu partido um partido de direita, mas sim um partido centrista e libertário.

O atual chanceler alemão, Olaf Scholz, o alvo das críticas de Musk, ignorou inicialmente o primeiro comentário de Musk, mas após o artigo publicado no Welt, Scholz referiu na sua mensagem de Ano Novo que quem decide as eleições é o povo e não “donos de redes sociais”. O líder da oposição, Friedrich Merz da CDU (Democratas Cristãos) juntou-se ao SPD e acusou Musk de ser intrusivo e chamou-o arrogante.

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A porta-voz do governo alemão, Christiane Hoffmann, foi mais longe e acusou Musk de estar a influenciar as eleições alemão e afirmou que Musk é livre de ter a sua opinião, mas não precisa de partilhá-la, referindo-se claramente ao artigo publicado no Welt.

Gostava de ter a oportunidade de fazer uma pergunta a estes três políticos e aos outros todos que se pronunciaram sobre as declarações de Musk: Porque é que não ficaram calados? Porque é que Olaf Scholz decidiu ir falar sobre este assunto na sua mensagem de Ano Novo? Porque é que Merz se meteu neste assunto, em vez de ficar preocupado em ganhar as eleições? Cada uma destas declarações só faz os partidos perder ainda mais votos. Estes apoios das celebridades e multimilionários só têm efeito quando ganham muita atenção do povo; se ninguém falar do apoio, este não tem efeito nenhum. E Scholz decidiu referir-se ao tema num dos momentos televisionados mais vistos do ano, a mensagem de Ano Novo do Chanceler. Qual era a necessidade de referir este assunto no seu discurso, se nada adicionou ao discurso e apenas conferiu mais atenção ao tema?

Merz até era quem poderia ter ganho mais (ou perdido menos) com este apoio de Musk ao AfD, mas perdeu a sua oportunidade de ficar calado. Se fosse perguntado, Merz deveria ter afirmado que estava focado no seu país e os apoios de celebridades a outros partidos não são importantes para o futuro da Alemanha. Se ninguém o abordasse sobre este assunto, deveria ter continuado a apresentar ideias e propostas para melhorar o país. Não deveria ter ido para o X debater com Elon Musk, que relembro que não é nenhum candidato a chanceler. Merz deveria estar a debater Scholz, Weidel e os outros candidatos para ganhar o país, não Elon Musk, que lá por ser americano e multimilionário não perde o seu direito de se exprimir livremente e apoiar o partido que melhor entender. Para além disso, Merz juntou-se à esquerda na crítica a Elon Musk, criando a sensação entre o povo, que a CDU já não é um partido de direita, direcionando os eleitores mais conservadores para a AfD, pois apenas neste vêem um partido conservador e verdadeiramente de direita.

A acrescer a isto, Saskia Esken, colíder do SPD, decidiu entrar no debate político com Musk, afirmando que democracia e direitos dos trabalhadores são obstáculos para mais lucro. Que eleitorado estava a tentar ganhar? O eleitorado de Musk (que não existe)? Se o SPD quer ganhar votos ao AfD, têm de criticar o partido, as suas ideias e os seus líderes. Não vão ganhar um voto criticando um multimilionário americano, que apoiou o partido. Só lhes vão dar mais atenção, que é o que Musk e o AfD querem. Outra coisa que não ganha eleitorado algum é apelar à censura, que foi o que fez Christiane Hoffmann, dizendo que se pode ter uma opinião, mas que esta não precisa de ser partilhada. Uma frase destas só tem potencial para perder votos. Relembro novamente, que Elon Musk não é o candidato da AfD. A candidata da AfD é Alice Weidel, não é Elon Musk. É com Alice Weidel que os partidos têm de debater, se querem ganhar votos ao AfD, não é com Elon Musk.

Concluindo, os partidos tradicionais perderam votos de quatro formas diferentes, a começar pelo próprio apoio, que já deu alguns votos ao AfD, depois com as declarações incompreensíveis dos partidos, com a atenção redobrada que foi dada ao artigo de Musk, que seguramente levou a que algumas pessoas lessem o artigo e concordassem com o multimilionário. Por fim a CDU perdeu eleitores da sua ala mais conservadora, pois este partido juntou-se à esquerda, deixando um vácuo na direita conservadora moderada alemã, que fez com que alguns dos eleitores da ala mais à direita da CDU se virassem para o AfD.

Que isto nos sirva de exemplo.