Há alguns anos, li um artigo académico sobre o impacto das certificações ISO 9000 na capacidade de inovação das empresas. O resultado é que o processo de certificação garante uma alta qualidade, mas em detrimento da inovação. Este artigo revela que as empresas certificadas têm tendência a perder capacidade de inovação radical e focam-se na inovação incremental. Como é que esta conclusão pode ser uma lição para as escolas de negócio?
No mundo das escolas de negócios, o Financial Times European Schools Ranking (que saiu em dezembro) tem muito impacto. Tem impacto nos estudantes quando estão em processo de escolher onde tirar o seu diploma, tem impacto nas empresas recrutadoras quando escolhem onde recrutar talento, e tem impacto na reputação da escola. Quando analisamos em detalhe este ranking, que é uma soma dos rankings dos vários programas (Mestrados, MBA, Formação de Executivos), o que sobressai é que depende muito da remuneração dos graduados (de Mestrado e de MBA), em termos absolutos e em termos de aumento de salário três anos após a conclusão dos seus programas. Ao mesmo tempo, sabemos muito bem que algumas indústrias e profissões pagam melhor que outras. Por exemplo os diplomados que vão trabalhar na área de finanças ganham muito mais do que aqueles que fazem carreira na indústria ou em ONG. Os empreendedores que vão ganhar pouco ou até nada nos primeiros anos (mas que têm um potencial enorme) têm impacto negativo para a escola, de acordo com este critério.
Nesta perspetiva, será que eu, como professora, deveria aconselhar aos meus alunos a trabalhar de preferência na banca de investimento em Londres? O Financial Times European Schools Ranking cria um enviesamento a favor da remuneração que é contrário à nossa missão como escola de negócio, de formar talento para todas as áreas: empresas grandes, PMEs, start-ups e ONG. Todos nós temos a noção de que é essencial desenvolver o espírito empreendedor nos nossos alunos, e que um empreendedor pode não ganhar nenhum salário durante o primeiro ano, mas pode ter uma saída (por exemplo com a venda da sua empresa) muito lucrativa.
Num mundo global e complexo, acho essencial valorizar carreiras diversas além das clássicas banca, consultoria e grandes empresas. Precisamos de empreendedores e de jovens nas ONG para tornar o mundo melhor. Os rankings das escolas de negócios têm um efeito muito similar às certificações, que são positivas para a qualidade em detrimento da inovação. Para evitar este impacto, espero ver no futuro mais critérios ligados ao impacto social e ao empreendedorismo no Financial Times ranking. Quero aconselhar aos meus alunos a escolherem a carreira que querem sem qualquer limitação!