Em 2017, Arthur Sadoun, CEO da Publicis (o terceiro maior grupo de comunicações do mundo, conhecido pela sua criatividade, tecnologia de ponta, conhecimento digital e consultoria), anunciou que, no ano seguinte, nenhuma agência da holding iria inscrever trabalhos em festivais. Esta decisão causou um verdadeiro ‘tsunami’ interno, apesar da razão apontada ser o de reverter o investimento anualmente utilizado em inscrição de trabalhos para a criação de uma plataforma de otimização da comunicação e troca de experiências entre todos colaboradores dos vários países onde grupo marca presença.

Entre os vários tweets que foi recebendo dos colaboradores, um dos criativos perguntava a Sadoun: “Por que razão devo ficar e continuar a apoiar o grupo quando foi tomada uma decisão que afetará negativamente a minha carreira nos próximos dois anos?”. Aliás, muitas das marcas que são clientes do grupo decidiram também manter a sua presença nos festivais pagando as inscrições do próprio bolso.

Este episódio reflete um pouco a razão da existência deste tipo de iniciativas. No Brasil, por exemplo, dificilmente um criativo aspirará a dirigir o seu departamento se no seu portfólio não constarem prémios internacionais. Os galardões são o reconhecimento de um bom trabalho e qualquer criativo, individualmente ou em equipa, orgulha-se dessa distinção. Os prémios são também importantes para atrair novos talentos que, em última análise, contribuem para o sucesso de uma agência e dos que com ela colaboram.

Por outro lado, para as marcas, e além de lhes trazer uma visibilidade acrescida, é também mais um barómetro para medir a parte intangível do trabalho da agência com a qual trabalha.

Tal como a constante e cada vez mais rápida mudança do mundo, também os festivais que premeiam a criatividade têm vindo a ser alterados por outros setores, desde Silicon Valley até Hollywood. São um ponto de encontro entre o mundo das marcas, da publicidade, dos meios, da inovação tecnológica, do entretenimento, …São fóruns de encontro, de aprendizagem, de interação, de recrutamento e, essencialmente, de inspiração. Constituem palcos importantes de discussão e reflexão sobre o papel desta indústria no mundo.

Numa intervenção na última edição do Festival Cannes Lions, o próprio CEO da Unilever, Alan Jope, afirmava que num mundo cada vez mais dividido, com uma crescente falta de liderança política, há uma oportunidade única para esta indústria assumir um papel relevante na sociedade, adotando posições e apoiando projetos em prol de uma inovação social. E em Portugal, qual é a importância dos prémios para o setor? É uma forma de ganhar visibilidade e relevância internacional e, com isso, ser chamado a disputar concursos internacionais, podendo assim ser criado gradualmente um cluster de criatividade nacional com relevância mundial. É, igualmente, um estímulo às novas gerações que têm demonstrado o quanto valem, ao ocuparem o segundo lugar no ranking mundial nas competições destinadas a profissionais até 30 anos: os Young Lions do Festival de Criatividade Cannes Lions.

Ana Paula Costa é representante Cannes Lions na MOP – Multimédia Outdoors Portugal. Este texto insere-se numa série de artigos de opinião publicados no âmbito das iniciativas organizadas pela MOP, representante oficial do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, um dos festivais mais prestigiados pela indústria criativa em comunicação. Cada texto apresenta uma visão de vários profissionais do setor, de tendências a perspetivas de futuro. 

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