Os teatros e salas de espetáculos históricos são mais do que marcos arquitetónicos; são reflexos vivos das transformações socioculturais das cidades e dos seus habitantes. Estes são espaços que se reinventam para acompanhar novas tecnologias e tendências, preservando memórias coletivas e padrões identitários da cultura portuguesa.

A sua presença é tão marcante que, mesmo quando desaparecem, os teatros e as salas de espetáculo deixam uma memória quase física nos locais onde existiam. São como familiares anciãos, acarinhados e respeitados, com cada pessoa tendo o seu teatro predileto em diferentes cidades.

Entrar numa sala de espetáculos é uma experiência única e solene: dos detalhes arquitetónicos que captam o olhar à magia das performances que ali acontecem, tudo contribui para criar memórias marcantes. Artes cénicas e performativas como a música, teatro, cinema e dança estabelecem uma ligação profunda com os espaços onde são apresentados, criando laços entre público e arte.

Lisboa é uma cidade privilegiada ao abrigar alguns dos teatros mais emblemáticos de Portugal. O Teatro Nacional D. Maria II, o Teatro São Luiz, o Teatro da Trindade, o Coliseu dos Recreios e o Teatro Nacional de São Carlos são testemunhos de décadas de história e cultura, cada um com uma identidade única para contar sobre a cidade e cultura nacional.

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Entre estes teatros está também o Teatro Tivoli BBVA, que celebra hoje um marco especial: o seu centenário. Este espaço, inaugurado em 1924, desempenhou ao longo de dez décadas um papel crucial na vida cultural da capital. Começou como cineteatro, destacando-se na expansão da sétima arte, e tornou-se uma referência internacional graças à visão de Frederico e Augusto de Lima Mayer, que o transformaram num palco para companhias e artistas de renome mundial.

O legado musical do Teatro Tivoli é particularmente notável. Foi palco de intérpretes icónicos, como Arthur Rubinstein e recebeu génios como Igor Stravinsky. Também esteve no centro da vida musical portuguesa, acolhendo importantes orquestras, como a Orquestra Gulbenkian, antes da construção do edifício da Fundação, além de memoráveis edições do Festival Gulbenkian de Música e temporadas dirigidas pelo maestro Pedro de Freitas Branco, com os célebres Concertos Sinfónicos de Lisboa.

Ao celebrar os seus 100 anos, o Teatro Tivoli BBVA reafirma o seu papel como guardião da cultura e da memória de Lisboa. A programação comemorativa, que inclui o regresso da Orquestra Gulbenkian ao palco, sublinha a importância destes espaços como protagonistas da nossa história coletiva e pilares da arte e da arquitetura na cidade.