Quando Ronaldo apelidou, numa entrevista, o futebol português de circo, estava, sem se aperceber, a classificar na perfeição o panorama político e social do país. A forma como o governo de Portugal tem sido conduzido e a relação com as pessoas, aproxima-se, cada vez mais, dos imperadores romanos e do seu total alheamento da realidade, respondendo às insatisfações da populaça com pão e circo. Este é um governo igual aos dos déspotas romanos, reagindo a tweets, redes sociais e modernos influencers que vão ajudando os socialistas a se manterem no poder enquanto procuram capitalizar a título pessoal a infelicidade de todo um povo.

“As Medidas Históricas de Apoio aos Jovens” – o Pão

Pensemos na pompa e circunstância do anúncio das medidas “históricas” que, na perspetiva do PS, vão resolver os problemas dos jovens. Se fecharmos os olhos ao ouvir António Costa e os seus ministros, quase que conseguimos escutar as trompetas e o som das botas das legiões a marchar ao ritmo da voz do grande imperador. Os jovens desesperam por melhores salários, por saídas profissionais dignas, por habitação e por um ensino de qualidade. Tudo aspirações justas e, em alguns casos, até exigências de uma democracia constitucional que deveria garantir ao seu povo as bases para a sua liberdade, com a educação e a saúde à cabeça.

Perante milhares de tweets, mãos coladas ao chão de faculdades e manifestações orquestradas, o que faz o nosso Partido Socialista?

A Habitação

Comecemos pelo grave problema da habitação. Temos uma inflação galopante dos preços, tanto no arrendamento como na compra, provocada não apenas pela procura, mas também pela escassez da oferta, pelo aumento dos custos na construção e por, certamente, movimentos de especulação por parte de alguns proprietários e promotores. Temos uma incapacidade de acesso dos universitários a habitação na zona da sua universidade. E temos uma quase impossibilidade de jovens e casais jovens terem a sua própria habitação, a não ser que optem por um T0 no chão da Almirante Reis.

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Perante este cenário, o governo decide apostar fortemente em construção de habitação pública de qualidade, como complementaridade à habitação social e com o objetivo de criar oferta para a classe média e jovens. Perante isto o governo investe nos transportes e no desenvolvimento das periferias como fator motivacional para o aumento da qualidade de vida nestes centros urbanos e criar atratividade que combata o desejo de morar apenas e em exclusivo no centro de Lisboa e Porto. Perante isto, o Governo aposta no reforço da oferta de residências universitárias (em locais onde existem universidades) e no alargamento do apoio aos jovens estudantes.

Perante esta emergência, isto era o que teria sido importante o governo fazer. Na verdade, o governo apenas nos deu “pão e circo”. Com tudo isto, o que resultou da concentração dos talentosos ministros e secretários de estado socialistas foram vinte medidas vazias, num programa intitulado “Mais Habitação”, vazio de soluções para jovens e impraticável na sua aplicação mais profunda. E quando olhamos para o “histórico” plano para apoio aos jovens o que encontramos? A execução do estéril “Mais Habitação”.

O Ensino

No entanto, não nos deixemos desanimar e procuremos resposta a outros problemas urgentes da nossa juventude. É importante qualificar as pessoas de forma a que possam ter capacidades para os novos desafios do mundo empresarial. O investimento no ensino, nos professores, nas escolas e nas universidades é estruturante para estes jovens e para o país. Uma sociedade que se quer evoluída reconhece na educação o seu pilar de crescimento e uma ferramenta ímpar e justa no potenciar dos elevadores sociais.

E quando olhamos para as medidas de apoio à melhoria do ensino encontramos…um cheque livro aos 18 anos. Quando li esta medida pensei que só poderia ter sido escrita pelo meu amigo humorista Rúben Branco ou pelo responsável de marketing da FNAC. Oferecer um livro a quem não tem um candeeiro para ler à noite, ou uma mesa para colocar esse candeeiro, ou uma sala para decorar com essa mesa e, nem mesmo uma casa onde essa sala exista, só podia ser ou uma piada de humor negro ou uma falhada campanha de oferta de livros. Mas não, é uma proposta real de António Costa e da sua corte. Troquemos as letras e capas douradas por farinha e sal e temos o pão romano atirado para as bancadas, repletas de pobres, no Coliseu.

Não esqueçamos, ainda, o flagelo de quem nem o ensino obrigatório consegue terminar. De quem, integrado numa família que sofre com profundas dificuldades, se vê amputado dos seus sonhos pela necessidade de entrar no mercado de trabalho não qualificado (e mal remunerado) numa idade precoce da sua vida. Para esses um livro aos 18 anos não é suficiente (porque, na verdade alguns nem o vão saber ler), mas para esses o Governo também criou uma resposta. Querem motivação para acabar o ensino obrigatório? Então, aproveitem este magnífico “Passe Intrarail” para viajar. E atenção, não é apenas para uma viagem, é para quatro e com dormidas nas pousadas da juventude.

Talvez estas famílias preferissem apoios diretos para saírem das suas situações difíceis, e se era para oferecer passes então que oferecessem passes para os transportes públicos que permitissem a estes jovens terem mobilidade, porque garantidamente não será com noites em pousadas da juventude que eles vão alcançar o rendimento que necessitam. E para quem já está a salivar de critica a esta medida, por favor lembrem-se dos romanos e das suas festas fantásticas… aqui, temos o Circo!

Os transportes 

Provavelmente, olhando para a próxima medida do governo, podemos pensar que fui injusto na análise da anterior. Eu sugeri passes gratuitos e não é que o governo incluiu nas medidas “históricas” um passe gratuito!!! Esperem, afinal o passe gratuito é só para estudantes até aos 23 anos e, como tal, não abrange todos os jovens que foram forçados a ir trabalhar porque a sua família não tinha meios de sobrevivência. Que falha António Costa, mas atenção, esta medida é revolucionária para um problema grave. Os jovens estudantes não conseguem quarto perto do Técnico? Não faz mal, o Governo paga um passe e eles já podem vir de Setúbal todos os dias sem gastar dinheiro! E até podem ler o livro que ganharam aos 18 anos durantes as duas horas de viagem! Quem diz que estes ministros não pensam em soluções?

O rendimento e a necessidade de emigrar

Chegamos às últimas três medidas, que pretendem dar resposta ao grave problema de baixo rendimento e necessidade de procurar uma vida melhor fora do país. Diariamente lemos casos de jovens que foram forçados a ir para destinos horríveis como Paris, Londres ou Amesterdão procurar um salário melhor. Os impostos lá são mais baixos, as empresas pagam mais e as casas até custam o mesmo. E que resposta tem António Costa para esta fuga de talentos?

Vamos oferecer um prémio salarial equivalente às propinas se ficarem a trabalhar em Portugal. Como é possível não ver o mérito disto? Quem pode dizer que não a um prémio anual de quase 700€? Eu respondo: todos aqueles que ao terminarem uma licenciatura são presenteados com um salário de 800€. Esses, se calhar, mas só se calhar dr. António Costa, preferem ir embora e ganhar esses 700€ de prémio a mais por mês em vencimento. Mas atenção, são realmente pessoas malformadas e que não reconhecem o esforço que este Governo faz a fingir que realmente se importa com eles.

E este ponto é perfeito para outra das medidas: o IRS zero. Sr. Primeiro Ministro, parece-me ser um pouco deselegante oferecer algo que as pessoas já têm. Um pouco como aquela tia que todos os anos oferece meias, mesmo sabendo que a pessoa já tem pares suficientes para fazer concorrência à Zara. Estamos a oferecer a isenção de impostos, quando a nossa juventude, graças às nossas políticas já estão isentos desse mesmo imposto graças aos ordenados miseráveis que ganham. Eu sei que isto parece um circo, mas não façamos dos jovens os palhaços.

Circus Maximus

Para cúmulo do programa “histórico de apoios aos jovens” o Governo anunciou a contratação anual de 1000 técnicos superiores para a Administração Pública. Se o resto é pão, isto é uma padaria.

Jovens, se não conseguirem vingar no mundo do trabalho, se as vossas competências não foram recompensadas com um salário digno, se o vosso talento não tiver na sociedade o retorno que vos permita atingir os vossos sonhos, juntem-se a nós no Estado e vivam uma vida de dependência e serviço à pátria. Isto não é uma medida, isto é um recrutamento militar obrigatório.

Voltemos ao início, porque é no passado que muitas vezes encontramos os ensinamentos para o futuro. Imperadores romanos durante séculos alimentaram a sua sede de poder (e de luxo) através de pão e circo, de controlo pelo medo e dependência, e pela criação de um sonho coletivo que um dia se iria alcançar. Este é um menu servido por inúmeros déspotas, regimes totalitários e na base de ideologias como o fascismo ou o comunismo.

Portugal teve uma ditadura que, entre outras coisas, mantinha um país com enormes desigualdades e situações de pobreza. É natural que num período revolucionário e de transição se tenham aprovado medidas radicais para solucionar essas desigualdades e combater a pobreza. Seria natural, que nos governos em democracia, se tivessem aprovado planos estruturantes para atenuar as desigualdades e melhorar a vida das pessoas. Cinquenta anos depois ainda existirem essas necessidades é a prova como falhámos enquanto sociedade.

A esquerda, hoje em dia, assemelha-se a uma religião, controlando os seus fiéis (votantes) pelo medo e pela dependência, prometendo a “eternidade” (um mundo melhor) onde nunca se chega, mas para o qual se tem fé. Uma estrada sem fim, uma estrada de penitência e uma estrada de ausência de liberdade perante um Estado que tudo controla e que tudo providência, numa palavra: comunismo.

A direita e o centro falham por não conseguirem ser diferentes e assumirem que há um passado que não nos orgulha, mas que não se pode confundir ditadores e ditaduras com políticas conservadoras, sociais e humanistas. E, acima de tudo, não se deve confundir o ataque a políticas de esquerda com tentações eleitorais que branqueiam xenofobia, racismo ou divisões da sociedade.

Termino como comecei, este governo faz-nos regressar à Roma dos imperadores, onde pão e circo distraíam uma população pobre, dominada e que servia uma corte de privilegiados e ditadores. Uma “elite cultural” que tratava as necessidades do povo com a ligeireza de quem oferece viagens de comboio a quem não tem o que comer.

O dr. António Costa está em vias de se tornar um imperador romano, personalizando um partido socialista e uma esquerda que se perpétua no poder à custa de um povo cada vez mais miserável. Infelizmente para Portugal, se, neste momento, algum imperador romano fosse encarnado pelo Primeiro Ministro seria Nero e a única salvação para um incêndio anunciado será uma visão estruturante, séria e humanista. Uma visão que integre todos, que não descrimine, que não crie portugueses de primeira e de segunda, que defenda a liberdade e a propriedade e que garanta o acesso de todos a esses direitos. Uma visão que pense em servir Portugal e não em servir-se dos portugueses. Ronaldo nunca esteve tão certo e os jovens nunca estiveram tão próximos da condenação.