No passado dia 27 de janeiro realizou-se em Washington a anual marcha pela vida. Os manifestantes, além de afirmarem a sua posição no tema do aborto, mostravam também o seu apoio à medida recentemente tomada por Trump de cortar o financiamento de organizações que promovem esta prática fora dos EUA. Contou com 500 000 pessoas, incluindo o Vice-presidente dos EUA, algo que nunca tinha acontecido, nem mesmo durante a administração do assumidamente pró-vida Ronald Reagan. Só a presença histórica do número dois da nação seria por si só suficiente para justificar a vinda em massa dos media, contudo, quer nos EUA quer na Europa, o evento passou perfeitamente despercebido. Em Portugal, tirando as incontornáveis Rádio Renascença e Agência Ecclesia, só mesmo o Diário de Noticias e a RTP se dignaram a reportar o acontecimento.
Esta censura é tanto mais descarada se tivermos em conta que uma semana antes, a marcha das mulheres, um evento de orientação política oposta, com o objetivo não só de gritar pela causa dita feminista, mas sobretudo de protestar contra a eleição de Trump, teve um acolhimento mediático exaustivo, que se prolongou durante vários dias. A diferença de tratamento é simplesmente gritante: segundo o Media Research Center, a marcha das mulheres recebeu 129 vezes mais cobertura televisiva que a marcha pela vida. Quando somados os minutos de tempo de antena das principais cadeias de televisão americanas, a diferença é de 75 minutos para 39 segundos. Como explicar isto?
Contudo, ainda mais grave do que a censura a notícias de apoio ao regime e amplificação das vozes contra, é a sistemática manipulação de informação que se continua a observar em tudo o que envolve Donald Trump. Um caso crasso e muito presente é a ordem executiva sobre a imigração. Pondo os pontos nos is, o que a ordem faz é restringir a entrada no país de pessoas provenientes de uma lista de sete países, com alerta terrorista, suspender por 120 dias a vinda de refugiados destes países e por um período indefinido os provenientes da Síria. Cada um avaliará se acha a ordem justa ou não, o ponto não é esse, para o caso o que interessa é avaliar até que ponto aquilo que os meios de comunicação transmitem corresponde de facto à realidade.
A primeira ideia a ser vendida pelos media é de que isto se trata de um exemplo de islamofobia, cujo intuito é fechar a porta do país a crentes muçulmanos. O New York Times, por exemplo, referindo-se à medida diz que “Donald Trump’s Muslim Ban Is Cowardly and Dangerous”. Variações do mesmo são repetidas por quase todos os grandes meios de comunicação. Ora, a medida afeta menos de 13% da população muçulmana global! Para 87% dos muçulmanos no mundo a fronteira americana está tão aberta como sempre esteve. Além disso, a lista de sete países a que a ordem faz referência foi elaborada por Obama, não Trump, como sendo países de indiscutíveis ligações terroristas.
A CNN afirma: “Donald Trump’s travel ban fundamentally changes American history”. Não, não muda. Na realidade tem muito pouco de novo, o próprio Obama proibiu a entrada de todos os refugiados Iraquianos em 2011, durante seis meses, o dobro do tempo de Trump. Mais, ao longo dos seus oito anos de governação, Obama pôs restrições à entrada de cidadãos de países muçulmanos por seis vezes. É o presidente americano que mais deportações ordenou na história dos EUA, com mais de 2.5 milhões entre 2009 e 2015 (não existem ainda dados para 2016). Aliás, o facto de ter deportado mais pessoas do que todos os presidentes americanos do século XX juntos, valeu-lhe, nos corredores de Washington, a alcunha de “Deporter-in-Chief”. Porque não se veio para as ruas protestar? Ou antes, porque é que na altura esta medida foi transmitida como razoável e necessária para a segurança nacional? Porque é hoje tratada como racista e extrema?
Voltando à (ausência de) cobertura dos media à marcha pela vida, está à vista de todos a insistência com que nos mostram as manifestações contra o novo Presidente, mesmo tratando-se de escaramuças com umas centenas de pessoas. Alguém que acordasse hoje de um coma e olhasse para aquilo que nos mostram do panorama político americano, pensaria sem dúvida que aquele homem do cabelo esquisito está rodeado de inimigos por todo o lado e que toda a gente o quer fora do poder!
A verdade, porém, é que a popularidade do Presidente Trump está em alta. Segundo as últimas sondagens Rasmussen (das poucas agências que previram a vitoria de Trump nas eleições), 47% dos eleitores acredita que o país está a ir na direção correta, o nível de otimismo mais alto dos últimos 12 anos. Em relação à ordem executiva sobre a imigração, 57% dos eleitores está a favor, 33% contra e 10% indecisos. De novo, este quadro contrasta radicalmente com o que nos pintam os meios de comunicação. Porquê? Porque não nos mostram estes números, as entrevistas, artigos e reportagens que o confirmam?
A falta de cobertura mediática a um evento que juntou o equivalente a dez estádios de futebol cheios, incluindo o vice-presidente do país, não é, evidentemente, acidental, segue uma linha política pré-definida. As imprecisões, meias verdades e insistência em moldar as histórias sempre à mesma conclusão, não é incompetência, é ideologia. Não correu bem durante a campanha, foi defraudada no dia das eleições e está agora a minar os pilares em que assentam as nossas instituições.
Mais do que paredes no México, esta cortina de fumo que nos está a ser amiúde colocada entre nós e a verdade, é o mais importante muro a ser derrubado. Mais do que Trumps, a manipulação dos factos pelos media é a verdadeira tirania que ameaça as nossas democracias.
Licenciado em Ciência Política, a trabalhar em Genebra