No dia 31 de Janeiro de 2022, Portugal e os portugueses acordaram para um país mergulhado em escuridão.
As eleições legislativas de 30 de Janeiro resultaram na segunda maioria do Partido Socialista desde 1974. A primeira, dada a José Sócrates, teve o resultado que se conhece, levando o país à bancarrota e condenando o futuro da geração que agora entra no mercado de trabalho. Esta segunda, dada ao mesmo Partido Socialista de José Sócrates, reforçando um governo que nada reformou nos últimos seis anos e que é composto pelas mesmas figuras dos governos de Sócrates, nada fará senão perpetuar a miséria, a estagnação e a pobreza, num país que está cada vez mais na cauda da Europa, em que cada vez mais jovens são forçados a emigrar para ter uma vida digna e em que cada vez mais se caminha em direção ao abismo.
O Partido Socialista, que governará agora sem travões, fazendo uso de um pretenso dinheiro infinito que vem da Europa, fará de tudo para, sem escrutínio – até porque conseguiu extinguir na anterior legislatura os debates quinzenais – encher os bolsos das clientelas que o perpetuarão no poder com promessas de salários mínimos ou pensões marginalmente mais altas. Os jovens continuarão a sair aos 80 ou 100 mil por ano do país, especialmente aqueles com mais qualificações que ou não encontram na miserável economia portuguesa oportunidades de emprego digno, ou são convidados a emigrar por um sistema fiscal monstruoso, asfixiante e castigador de quem quer subir na vida. Sobrarão apenas aqueles que por um motivo ou outro não conseguem sair, e aqueles que se conformam com a situação – por ignorância, incapacidade ou pobreza de espírito.
Na oposição, o maior partido é aquele que não demonstrou uma ideia diferente para o país e, pelo contrário, aproveitou cada oportunidade para dar a mão ao Partido Socialista, degradando a nossa democracia. Deste partido derrotado e mole, nada poderemos esperar num futuro próximo. O seu líder purgou a oposição interna e deixará agora o partido num longo período sem liderança ou rumo.
As vozes de revolta e descontentamento transferiram a sua força da extrema-esquerda, que continua presa aos louvores a regimes facínoras do século XX, não escondendo o seu amor por ditadores, para a extrema-direita, igualmente presa a facínoras e ditadores, mas trocando o ódio ao capital e aos supostos ricos, pelo ódio à diferença. Balanço feito entre aqueles que odeiam a liberdade de um lado e de outro, acabam por não haver grandes alterações. Mas até um já seria demais, e que sejam estes a canalizar o descontentamento é grave e preocupante.
Sobram então meras oito vozes no parlamento que serão a luz na escuridão, a resistência contra, de um lado, aqueles que querem acabar com a liberdade e do outro, aqueles que querem continuar um país e um povo submisso, pobre e triste. Os liberais são o último reduto e cresceram. Ao fim de décadas de silêncio e de uma legislatura com uma única voz, a Iniciativa Liberal fará agora o seu caminho com um grupo forte e capaz como a única oposição decente e responsável e como a única alternativa capaz de colocar Portugal no caminho do crescimento económico. A estrada é longa e acidentada. A mensagem liberal é difícil no país com menos literacia financeira da Europa – um país onde menos de um quarto das pessoas tem a capacidade de compreender conceitos básicos de numeracia, risco ou sequer o que é inflação ou um juro. Uma população pobre e envelhecida, que responde muito mais facilmente ao chamamento primário do ódio, à ignorância ou à ilusória segurança do inferno que conhecem. Quando, e se, os liberais forem capazes de derrotar os adversários que se apresentam, será tarde demais para a minha geração. No final desta legislatura, a minha geração estará a entrar nos seus trintas. A sua infância, adolescência e vida de jovem adulto terá sido passada exclusivamente na governação socialista ou no resgate às suas consequências. Para nós – para mim – será tarde demais em Portugal. O nosso destino será decidido fora. Mas não será tarde demais para as gerações vindouras, para os que nascem agora e para os filhos dos que agora são atirados para a emigração. Para eles há esperança porque um grupo de cidadãos teve a coragem de lutar contra o conformismo, contra a estagnação e contra a miséria. Há uma luz, distante, ao fundo do túnel.
Os resultados da eleição de dia 30 atiraram o fim da estrada para mais longe. Mas também garantiram que aqueles que mantêm viva a chama têm mais força. Enquanto lá estiverem, haverá esperança. Enquanto lá estiverem, é possível acreditar na redenção de Portugal. Enquanto lá estiverem, é possível acreditar que um dia eu e outros poderemos voltar para um país com futuro. Da minha parte, só tenho a agradecer aos que tornam possível acreditar, a todos os que confiaram neste caminho e que não nos deixam desistir de Portugal. Estarei ao vosso lado até que a luz se apague.