Se por um lado se criticava a aplicação da palavra “jovem” para caracterizar uma pessoa de trinta e poucos anos no início da sua vida adulta, por outro, e em matéria de estabilidade financeira, esta é cada vez mais compreensível face à conjuntura atual, sobretudo se se falar na aquisição de um imóvel neste período de tamanha instabilidade. Mais do que nunca, esta é a pergunta que impera: até quando vivem os jovens em casa dos pais?

O início deste ano marcou uma viragem na tendência decrescente da Euribor e, consequentemente, das taxas de juro associadas ao crédito à habitação. Depois de seis anos com um sinal menos à esquerda dos valores da Euribor, o indexante principal para a quase totalidade dos financiamentos bancários em Portugal está a trepar rapidamente para patamares positivos. Em junho, o valor médio da Euribor a 12 meses avançou para 0,852%, mais 0,565% do que no mês anterior. Por sua vez a média da Euribor a seis meses – associado à maior parte dos empréstimos para a compra de casa, fixou-se em 0,162%, mais 0,306% do que em maio deste ano.

Esta é uma realidade transversal e que diminui as expectativas de aquisição de novas casas por parte de pessoas mais novas. Embora sejam das gerações com mais estudos dos últimos anos, os rendimentos dos jovens ainda não estão a ser suficientes para permitir uma emancipação a este nível – um fator que também se alia à escassa oferta de imóveis e aos valores demasiado elevados praticados pelo mercado imobiliário em Portugal.

Comprar um imóvel com recurso a um empréstimo exige capacidade para assegurar uma entrada de, no mínimo, 10% do valor da aquisição ou da avaliação. A título de exemplo, se um jovem quiser comprar uma casa que custe 150 mil euros, com financiamento máximo de 90%, é-lhe exigido que disponha dos restantes 10%, ou seja, de 15 mil euros. A este valor irá ainda acrescer custos bancários como as comissões de análise de processo, de formalização e de avaliação de imóvel – um valor que chega, em média, aos 855 euros. Há ainda que somar-lhes a escritura e os três encargos fiscais: imposto do selo pela utilização do crédito, imposto do selo pela aquisição do imóvel e imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis (IMT).

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Feitas as contas, e utilizando um cenário de empréstimo de 120 mil euros, o consumidor poderá pagar, só de impostos, um valor superior a 4 mil euros.

Mas não haverá forma de facilitar o início de vida adulta no que à primeira casa diz respeito?

Nos últimos 11 anos, o preço das casas subiu 63,9% em Portugal, segundo dados da Eurostat. Porém, os escalões da tabela do IMT não refletem esta variação, mantendo a limitação das isenções a valores de aquisição muito baixos. Este ano, o Orçamento do Estado prevê uma revisão da tabela do IMT, mas que ainda deixa de fora da isenção as casas compradas por mais de 93 331 euros. Este é um patamar desajustado e que urge revisão, tendo em conta os preços praticados atualmente.

Se já foi possível criar um IRS Jovem, esperam-se novos instrumentos habitacionais que surjam também como resposta a uma mercado laboral mais volátil e muitas vezes precários para pessoas que se encontram em idades jovens, seja em primeiros empregos ou não. Estas novas medidas desejadas devem permitir a emancipação dos jovens adultos portugueses, evitando-se o adiamento das suas vidas e a permanência prolongada e evitável em casa dos seus progenitores. Terão os portugueses de esperar até aos 40 anos para terem a chave da sua primeira casa?