Uma das grandes ansiedades da geração dos meus pais e daqui a pouco tempo da minha geração é o cuidado dos mais velhos da nossa família. A dignidade na velhice não pode depender da lotaria do estado de saúde, da origem geográfica nem da condição económica.

Primeiro vamos aos factos. Mais de 2,5 milhões de pessoas têm mais de 65 anos em Portugal (Pordata, 2023), a pensão por velhice média é de 563€ (2023) e somos dos países com maior percentagem de idosos vítimas de violência (OMS, 2018).

Perante este cenário, milhares de famílias têm o dilema de encontrar vagas em lares para os seus pais ou avós, comportáveis financeiramente e que garantam os cuidados especializados que merecem e precisam. Quando não encontram, acomodam na sua vida, na sua casa, nas suas rotinas, o cuidado do idoso. Por muito amor e cuidado que apliquem a essa nova função, esta tem consequências no bem estar da família, na sua qualidade de vida, na adaptação da habitação, sendo que, muitas vezes, não oferecendo os cuidados que a velhice acarreta.

Não se trata de encaminhar todos os maiores de 65 anos para lares. Não é desejável nem possível. Muitos têm autonomia para não precisarem de cuidados permanentes e precisam apenas de uma estrutura de apoio como os centros de dia e as visitas domiciliárias. Mas até a este nível é escassa a oferta para a procura.

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É assim urgente criar uma rede pública, gerida pela Segurança Social, pelas autarquias e pelas Unidades de Saúde Local que crie estruturas de apoio ao idoso, tanto de Centros de Dia como de Lares – o Serviço Nacional de Apoio ao Idoso.

Esta rede pode e deve estar umbilicalmente ligada ao Serviço Nacional de Saúde, promovendo não só a qualidade de vida dos mais velhos e das suas famílias, como uma resposta na prevenção da doença nesta população.

Além de melhorar a qualidade de vida dos mais velhos, este investimento traria benefícios para toda a sociedade, como a redução de custos com saúde a longo prazo e a geração de empregos no setor da saúde e da assistência social.

O Estado social tem de responder a este problema social muitas vezes abafado, tantas vezes decisivo na qualidade de vida da população e na longevidade com qualidade dos mais velhos.

É hora de criar um Serviço Nacional de Apoio ao Idoso.