Domingo. 11:30 da manhã.

À minha esquerda, o meu filho de 4 anos brinca com o iPad. Acabei de lhe colocar um jogo novo.

À direita, a minha filha de 2 anos, com uma birra incomensurável a reclamar pelo mesmo iPad… lá lhe dei o telefone para as mãos que ela sozinha, o desbloqueou e lá chegou à aplicação do Youtube.

Ao fim de 30 minutos intermináveis de “Joana come a papa” percebi que o que eu precisava no passado dia 24 era também de uma app que me transportasse a uma mesa de voto. Com os dois com varicela, lá saímos, eu primeiro e depois a minha mulher.

Em quem votámos pouco importa, quem ganhou ou quem perdeu também pouco importa. Porque este texto não é sobre política. Não é sobre o Marcelo ou sobre o Tino de Rans. É sobre votos. É sobre a possibilidade de termos a realidade ao nosso alcance, a partir do sofá. É sobre casmurrice! Ou então sobre falta de visão.
Na Bulgária, 3 dias antes de irmos a votos, aprovou-se o voto digital. E os búlgaros não têm as praias que nós temos! Imagine-se se tivessem, que percentagem de abstenção teriam?

Estima-se que os jovens participem mais na escolha de quem os governa, assim como os emigrantes possam exercer o seu direito de voto. E então reduzir drasticamente o número de não votantes.

E nós por cá? 52% de abstenção. Casmurrice? Ou falta de visão?

Se posso ir ao banco e fazer um pagamento a partir da app do netbanco, porque não votar? Se posso fazer compras na app da Amazon, porque não votar?

Tim Berners-Lee, o grande criador da internet, referiu acerca de Steve Jobs que este revolucionou a forma como chegamos ao mundo. Que nos deu a internet em pequenas porções. A Apple não tendo sido a primeira, foi no entanto a que mais disponibilizou e que revolucionou o mercado das aplicações móveis. Entre 2008 e 2011 registou cerca de 10 mil milhões de downloads.

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Parece evidente que a internet como a conhecemos tem os dias contados. O futuro serão estas pequenas doses de realidade digital: as aplicações.

E nós? Nós continuamos a não votar. Continuamos a escolher a abstenção como grande vencedor de todas as eleições nas últimas décadas. Continuamos a imiscuir-nos desta responsabilidade.

O voto electrónico é a solução? Não sei.

Reduz a abstenção? Certamente que sim!
E entretanto, são 12:05 e o meu filho já abandonou o iPad no sofá. Está a braços com o comando da televisão a ver se consegue chegar a mais uma pequena porção da sua internet: a app do Netflix para assistir a mais um episódio do Dartacão!

Carlos Rosa

Designer e Dean da Escola de Tecnologias, Artes e Comunicação na Universidade Europeia

carlos.rosa@universidadeeuropeia.pt