Desde que o governo tomou posse temos assistido a muitos comentadores, políticos, jornalistas e mesmo pessoas em geral, a criticar constantemente as suas ações, a falta de justificação pela tomada dessas opções e a falta de negociação com a oposição para conseguir fazer passar medidas que são as suas promessas para avançar com o programa com que se apresentou às eleições.
Sempre que o governo fez, os comentadores caíram-lhe em cima e sempre que o governo não fez, o mesmo aconteceu.
Na verdade, e é reconhecido por quase todos aqueles que a debatem, a política deixou de ser um assunto para os que estão preparados e são especialistas e passou a ser um tema de domínio comum em que o “achómetro” tem toda a valência sobre qualquer decisão política.
Não é hoje necessário ser formado em economia para se analisar as medidas propostas num orçamento, não é necessário ter qualquer formação médica para avaliar o sistema nacional de saúde, não é necessário conhecer as questões de segurança para dar uma opinião sobre as polícias ou organizações militares.
Basta achar para estar certo de que o governo devia justificar-se, fazer ou não fazer, e negociar ou ficar só.
Pois eu não acho.
Acho que qualquer que seja a decisão que o governo tome sobre qualquer assunto, em face da situação política que estamos a viver, todos acabariam por criticar do mesmo modo.
Viesse o governo a justificar a sua decisão, ou não, e receberia sempre comentários negativos.
E, por isso, eu acho que o governo está a fazer muito bem.
Não compete ao povo em geral avaliar as razões por que o governo destitui ou nomeia qualquer responsável para qualquer função, desde que essa prerrogativa lhe pertença.
Aquilo que o povo deve saber é se, depois das decisões tomadas, o resultado foi efetivamente melhor do que estava anteriormente e se está em linha com o interesse de Portugal.
Não é sequer razoável esperar que um governo precise da aceitação popular de cada uma das suas decisões para poder tomá-las.
Todos sabemos que vivemos hoje numa sociedade extremamente comunicacional e, em momentos chave terá de haver comunicação entre os governantes e governados, até para que se mantenha a relação de proximidade necessária a uma confiança e tranquilidade para um percurso de desenvolvimento que se pretende.
Aquilo que em nada ajuda a conseguir essa tranquilidade é exatamente esta mania de tudo analisar, de tudo querer julgar, ainda que a responsabilidade esteja devidamente atribuída a quem detém essas funções.
O debate político a que temos assistido está mais próximo de uma forma de vendeta entre rivais, do que a uma consciente representação de um povo que votou nos seus responsáveis e que espera que todos eles, governo e oposições sejam comprometidos, antes de tudo o mais, com o bem de Portugal.
A exigência de prestação de contas diária por parte deste governo recentemente eleito choca com a impunidade com que vivemos nos últimos oito anos, em que se destruiu muita qualidade do Serviço Nacional de Saúde, em que se criaram situações de injustiça clara relativamente às forças de segurança e aos professores.
A imposição ao governo de uma negociação com a oposição choca com a exigência anterior de assegurar que nenhuma negociação seria aceite com o Chega.
E, ainda assim, as tentativas de negociação que existiram mostraram que a sua realização será sempre uma impossibilidade.
Por tudo isto… eu não acho que o governo esteja a fazer mal, que deva justificar todas a as suas decisões, que tenha sempre de negociar. E acredito que a seriedade com que vai fazendo o seu caminho, a seriedade como leva a comunicação e o respeito com que leva a causa pública, vai ser exatamente aquilo que lhe dará o reconhecimento deste povo que ama Portugal.
Como bem diz o povo, os cães ladram e a caravana passa.