O aquecimento global e a crise climática de causas humanas são uma realidade com amplo consenso científico (cerca de 97% dos estudos). Não se trata de uma crença, trata-se de um facto comprovado e que por mais estórias conspirativas que se criem, falsos especialistas que as contradigam, escolhas enviesadas de artigos científicos (dos 3% que refutam a afirmação inicial deste artigo) e falácias de autoridade (lançando currículos em vez de argumentos científicos)… continua a ser uma realidade.

Deste modo, não é alarmista exigir mais de nós próprios na preservação do nosso planeta. Não é uma questão das outras espécies (embora também seja) mas sim da nossa sobrevivência. O mínimo que cada um necessita de fazer é assumir a responsabilidade pelo impacto dos seus comportamentos, agindo proactivamente para se informar sobre esse impacto e sobre como o reduzir. Para além disso está a nossa acção colectiva, de pressão social e política para que as organizações e empresas e os nossos amigos, vizinhos e colegas se envolvam e corresponsabilizem para além da necessária mudança e evolução nas políticas públicas ao nível local, nacional, europeu e mundial (global) . Tudo para que um dia não olhemos para trás, nós ou nossos descendentes, e não questionemos porque não foi feito o que podia ser feito para evitar uma catástrofe ambiental e humana de escala planetária e porque nos escondemos atrás da pressão das nossas rotinas diárias.

A ciência psicológica pode apoiar estes processos, quer ao nível do desenho das políticas, quer no apoio às alterações de comportamento e de tomada de decisão humana que urgem, por exemplo encorajando a poupança de energia e o investimento privado em eficiência energética, como com os rótulos de eficiência energética para os electrodomésticos ou para a habitação, estendendo a sua aplicação a outras áreas ou fazendo da informação sobre consumos domésticos algo presente por defeito em todos as casas; promovendo a compra de carros mais eficientes, tornando transparente a eficiência comparada entre modelos; encorajar a poupança de água, dando a conhecer como nos comparamos com a média de consumo de quem vive à nossa volta; incentivando uma alimentação mais sustentável, com simplificação de datas de validade que evitem o desperdício de alimentos em perfeito estado para consumo; estimulando a adesão e participação voluntária a boas práticas ambientais bem como ao cumprimento da regulamentação, tornando mais salientes as obrigações e benefícios do seu cumprimento, bem como alertando para o aproximar dos prazos limite.

Não importa assustar e culpabilizar se não se criarem condições para a mudança de atitudes e comportamentos, muitos deles automáticos e emocionais, no nosso dia-a-dia, seja como decisores de consumo ou decisores de políticas públicas. Há comportamentos muito recompensadores para todos e que todos podemos adoptar muito mais. Se a emergência climática fosse apenas resolvida com apresentação de argumentos racionais e alertas… já estaríamos a fazer muito mais e com muitos mais resultados.  Precisamos de nos focar mais no que nos une e interrelaciona socialmente na defesa do ambiente, no que nos ajuda a obter mais estatuto social nas causas ambientais, no que nos possibilita obter mais sucesso por termos comportamentos mais sustentáveis e que nos dá esperança num futuro próspero e saudável ao fazê-lo.

Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses

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