Necessita de apoio psicológico? Necessita de apoio de um psicólogo? É médico num centro de saúde e precisa de referenciar um utente para um psicólogo? Bom, ou há dinheiro para pagar o serviço no sector privado (os seguros não contam, pois, a maior parte não cobre consultas de Psicologia) ou talvez o médico considere receitar-lhe um fármaco ou talvez tenha de esperar que o problema que identifica se resolva por si…

Aos decisores políticos convido a irem para além dos “slogans” e das histórias e narrativas políticas, e investirem estrategicamente na saúde (e por isso na saúde psicológica), sendo que investir na saúde mental e psicológica não resulta apenas de aumentar a capacidade para internamento ou a facilitação do acesso à medicação quando ela ainda é de difícil acesso para os mais pobres e vulneráveis. Resultaria antes de apostar na prevenção primária e universal, bem como na promoção da saúde e da autonomia das pessoas.

Ora, este objectivo mais consentâneo com o conhecimento mais actual em saúde traduz-se em mais bem-estar, desenvolvendo as competências das pessoas, permitindo-lhes serem mais resilientes para lidar com os episódios mais difíceis das suas vidas, com as crises, criando hábitos de vida mais saudáveis e duradouros. Todos os relatórios mais recentes na área da saúde defendem a prioridade imediata para esta área, com aposta no trabalho dos psicólogos, particularmente nos cuidados de saúde primários. A sustentabilidade da saúde, pela evidência científica começa aqui! E isso não são 40 psicólogos nos 8.400 profissionais anunciados, pois a ser assim os “slogans” seriam um logro. E logro maior seria que estes 40 fossem os já anteriormente anunciados cujo concurso decorre há ano e meio e não está sequer próximo de ser terminado.

O Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde refere que “cerca de um terço de todas as mortes em Portugal podem ser atribuídas a factores de risco comportamentais”. Comportamento esse estudado pela Psicologia e onde os psicólogos são os profissionais de referência. Não há prevenção primária sem psicólogos. Somos mais de 23.000 em Portugal, mas só cerca de 250 nos Cuidados de Saúde Primários e 1.000 em todo o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Todos os anos, os 30 cursos de Psicologia existentes no país formam cerca de 1.200 possíveis candidatos ao exercício da profissão de psicólogo. A Ordem dos Psicólogos Portugueses organiza mais de 1.000 “Anos Profissionais Júnior” (estágios profissionais) por ano nas mais diversas áreas e contextos de actividade da profissão, mas apenas residual e excepcionalmente no SNS, em alguns Centros Hospitalares como o do Padre Américo, no Tâmega e Sousa. Todavia, a Administração Central do Sistema de Saúde continua sem operacionalizar a determinação do anterior Governo, de 2018, para a realização destes estágios profissionais no SNS, contribuindo para a descredibilização política e governativa, enquanto o Governo no seu todo parece que “lava às mãos” e entrega a uma sumidade chamada “mercado” estes concidadãos e as suas expectativas (mesmo descontando que por princípio a formação superior não é um ofício, imagine-se dizer a alguém que tira medicina que não deve ter a expectativa de ser médico…).

Se é verdade que foi histórica a abertura do concurso, que ainda decorre, para os 40 psicólogos atrás referidos, após 20 anos, será inaceitável que antes da sua conclusão não se decida e operacionalize, sobre qualquer forma, o reforço acrescido deste número, o que reflectiria uma imagem de inoperância do Governo (deste e de vários dos anteriores) para ir ao encontro das necessidades das populações ao nível da saúde psicológica (sem a qual não há saúde), também correndo o risco de se transformar apenas numa história baseada em factos reais.

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