“Quem muito fala pouco acerta”
(Provérbio popular)
Depois de 8 anos na ribalta a divertir a malta, do caso de Tancos às promessas de casa ao homem dos incêndios que morreu sem a ter, passando pelas flash-interviews nos jogos de futebol, ao ponto de chegar a afirmar que o futebol era o mais importante ou a agraciar, violando as medidas ditatoriais anti-covid, os profissionais de saúde com finais da champions, dos mais de 80 testes que fez ao tronco nú para tomar a vacina primeiro que os outros todos, aos gelados ou à troca de cuecas na praia, sem esquecer as viagens que fez mais que todos os outros presidentes juntos, às batidas com o carro, conserto de pedras da calçada ou o caso das gémeas de que já ninguém fala, etc., etc., o comum cidadão perguntava-se em que longínqua ermida no Cu de Judas estaria o Presidente da República (PR) enfiado.
E eis que, após longo e higiénico silêncio, Marcelo afinal está vivo e não perdeu a voz. A respeito do ataque contra a democracia, como Mortágua, líder do partido que suporta e organiza este terrorismo, o classificou, veio o Presidente criticar como todos os líderes partidários? Claro que não. Quem ancorou toda a carreira no populismo veio fazer o que sempre fez: fingir que apaga fogos com copos de água enquanto incendeia tudo à volta.
Veio Marcelo declarar-se ele próprio um fanático climático – diz que a luta climática é boa e que a manifestação é um direito que assiste a todos em democracia – mas considerando “que a partir de determinada altura é uma forma de atuação muito pouco eficaz”.
Ou era o Moscatel a falar mais alto, ou temos que perguntar várias coisas ao PR, que também é conhecido por Professor e logo de Direito, à cabeça se sabe o que é um Estado de Direito Democrático e quais as regras que separam uma manifestação de um crime. Certamente não sabe ou não teria permitido os enormes atropelos durante os dois anos de pandemia. Fica a dúvida se à fraca qualidade dos políticos da praça, será alheio o facto de vários serem seus antigos alunos.
Depois, podíamos sempre pedir-lhe para ser consequente e desenvolver as suas palavras, ele que até – também o sabemos de ontem – está esclarecido. Quer o sr. PR que se suba brutalmente o IUC? Que se aumente mais e mais os impostos sobre a gasolina? Quer que muitos idosos morram à fome e ao frio porque o gás é para acabar já? Quer as serras todas esburacadas de minas de lítio e os Sobreiros arrancados para desertos de painéis solares? Quer o fim da democracia, esse empecilho à vitória de uma luta boa? Quer ele próprio abdicar de alguma coisa ou defenderá sempre o seu próprio privilégio como nos habituou quando proibia os outros todos de fazerem o que ele fazia?
A cereja no topo do bolo: a preocupação do PR é que a tinta já não é muito eficaz. Diga isso mais alto para os terroristas ouvirem: olhem, a tinta não funciona, têm que cumprir a vossa palavra e endurecer a luta – só faltou pedir para porem os olhos nos Talibãs ou no Hamas… Bem, devia ser mesmo o Moscatel, talvez misturado com Actimel…
Certo, certo é que o Homem não falava há muito tempo. Finalmente falou. E logo trouxe à memória de muita gente a célebre frase de Juan Carlos: “¿porque no te callas?”
Montenegro esteve melhor. Conversaria com os adultos – não são jovens. Mas é ingénuo pensar que eles – idiotas e cobardes como acertadamente lhes chamou Nuno Melo – querem ou sequer sabem conversar sobre o assunto.