No passado 6 de abril celebrou-se, uma vez mais, o dia mundial da atividade física.
Segundo relatório da OMS de 2022, pelo menos 27,5% dos adultos no mundo (o que representa 1,4 mil milhões de pessoas) não fazem o mínimo recomendado de atividade física, assim como uma percentagem assustadora de mais de 80% de adolescentes (11-17 anos).
A inatividade física, como é referida, é um problema global de saúde pública que custa caro: o relatório revela que, entre 2020 e 2030, estimam-se quase 500 milhões de novos casos de doenças não comunicáveis evitáveis, o que deve custar aproximadamente 27 mil milhões de dólares por ano, impactando diretamente os sistemas de saúde a nível mundial. Ainda assim, estes são números otimistas, que não têm em conta os custos associados a outras consequências da inatividade física, como o aumento de quedas evitáveis ou da perda de produtividade decorrente desses casos, por exemplo.
Face a este cenário, a OMS estabeleceu o objetivo de reduzir a inatividade física global em 15% até o ano de 2030 e lançou, em 2018, um plano de ação com vinte indicadores distribuídos em quatro categorias, para combater este problema. Cada país tem sido pressionado a implementar essas medidas em escala nacional. É neste sentido que surgem cada vez mais intervenções a nível de saúde pública que incluem a promoção da atividade física como objetivo ou são definidas mais linhas de financiamento pela União Europeia para projetos neste âmbito. Um exemplo português é a iniciativa que visa promover a atividade física nos cuidados de saúde primários, incluindo a monitorização dos níveis de atividade física durante consultas médicas dos utentes, bem como a implementação das “consultas de atividade física” no Sistema Nacional de Saúde e aconselhamento breve para a atividade física, decorrentes do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física, um dos pilares estratégicos de ação da Direção Geral da Saúde – que lançou recentemente um relatório completo sobre essas iniciativas. Portugal faz parte, assim, dos apenas 40% de países no mundo que têm algum protocolo nacional sobre a gestão da inatividade física em cuidados de saúde primários.
Apesar dos avanços, ainda há um longo caminho para percorrer na promoção da atividade física. A Ciência já revelou diversos fatores que facilitam a adoção de práticas mais ativas pelas pessoas: dentre muitas, como o apoio entre pares, por exemplo, sabe-se que um ambiente propício para que as pessoas sejam mais ativas é um grande influenciador – por essa razão, três das quatro categorias do plano de ação da OMS têm a ver com os sistemas (políticas, normas sociais, espaços públicos, etc.) que rodeiam as pessoas.
Fazendo um paralelismo com a (in)segurança alimentar ou (in)segurança financeira, a (in)segurança para a prática de atividade física (ou o acesso seguro à atividade física, como é chamada) também é um tema de extrema relevância. A “physical activity security” tem tomado cada vez mais espaço nos debates desta área, é monitorada por vários países e pode ser definida como: “quando todas as pessoas, a todos os momentos, têm acesso físico e económico a prática de atividade física suficiente, segura e prazerosa, para satisfazer não apenas as suas necessidades de saúde, mas também para promover o bem-estar físico e emocional e a conexão social, para uma vida ativa e saudável” (tradução livre deste artigo).
Para promover esta segurança, o contexto no qual as pessoas vivem importa, e muito. A equidade na oferta de locais acessíveis e gratuitos em todas as zonas de uma cidade que propiciem a prática de atividade física diversificada para pessoas de todas as idades e capacidades, o nível de segurança que os espaços apresentam para, por exemplo, mulheres sozinhas e grupos de amigos adolescentes praticarem exercício ou ainda a infraestrutura da cidade no que diz respeito a mobilidade ativa, são apenas alguns fatores do contexto. Quando vamos mais além, podemos também questionar, entre muitas coisas, se:
1.Para as pessoas é realmente possível ter tempo livre de qualidade para a prática de exercício (especialmente em famílias em situação de vulnerabilidade social e económica);
2.As políticas sociais implementadas reforçam a promoção de estilos de vida mais saudáveis – e o nível de investimento que há para essas iniciativas;
3.Os paradigmas sociais e económicos em vigor são, de facto, favoráveis a esses estilos de vida mais ativos e saudáveis;
4.Há formação suficiente para profissionais relacionados com prestação de cuidados de saúde, de educação e de apoio social sobre a melhor forma de promover uma vida mais ativa adaptada a realidade de cada pessoa;
5.O funcionamento das instituições está a considerar a saúde e bem estar das pessoas como prioridade;
6.As lideranças organizacionais dão o exemplo na manutenção desses comportamentos.
A Constituição da Organização Mundial da Saúde afirma que “a fruição do melhor estado de saúde possível é um direito fundamental de cada ser humano”. Garantir que o plano de ação global para a atividade física se cumpra (entre tantos outros) é um passo importante que pode contribuir para assegurar esse direito às pessoas e que está diretamente ligado a vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Praticar 150 minutos de atividade física de qualidade, de intensidade moderada a vigorosa por semana (o mínimo recomendado para adultos) pode não parecer muito complicado dentro da realidade de algumas pessoas. Mas, enquanto sociedade, temos de garantir que os sistemas em vigor permitam que isso seja verdadeiramente possível para toda a população. Encarar a “physical activity security” como uma questão sistémica deve estar na pauta da comunidade global, para que possamos ter todos uma vida mais ativa e saudável e, assim, podermos melhor contribuir para o crescimento de nossas comunidades
O Observador associa-se aos Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, irão partilhar com os leitores a visão para o futuro nacional e global, com base na sua experiência pessoal e profissional. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.