Esteve recentemente em consulta pública o EIA – Estudo de Impacto Ambiental do Prolongamento da Linha Vermelha do Metro de Lisboa entre São Sebastião e Alcântara.

O projeto prevê a construção de uma linha com cerca de 4 quilómetros de extensão e 4 novas estações: Amoreiras, Campo de Ourique, Infante Santo e Alcântara. O troço final (na zona de Alcântara) é em viaduto, com uma extensão de 380 metros. O projeto refere ainda o objetivo de melhorar as ligações com a Estação de Alcântara-Terra e a Linha de Cascais. O custo anunciado da obra é de 304 milhões de euros, bastante dinheiro para um troço de linha relativamente curto.

Embora a solução preconizada contenha alguns aspetos interessantes, como por exemplo, a travessia da “baixa” de Alcântara e a estação Alcântara serem aéreas, apresenta falhas significativas, nomeadamente quanto ao número e à localização de algumas das estações intermédias, a localização da estação Alcântara, bem como na interligação com o sistema de transportes na zona de Alcântara.

Desde logo, a excessiva distância entre estações, em geral superior a um quilómetro, sendo de 1,25 km entre São Sebastião e Campolide/Amoreiras, uma enormidade. De referir que a maior distância entre estações da rede atual é de cerca de um quilómetro, entre Alvalade e Campo Grande, na Linha Verde, mas em circunstâncias excecionais, pois não há praticamente residentes entre essas estações. Portanto, deveria existir mais uma estação intermédia e serem relocalizadas algumas delas, de modo que a distância entre si seja da ordem de 800 metros, como é recomendável.

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De referir também as condições problemáticas da localização da estação Campo de Ourique no “Jardim da Parada”, cuja construção obriga à realização de poços de acesso de grande diâmetro dentro do perímetro do jardim (pondo em risco árvores centenárias) e a intenso tráfego de camiões, para a retirada dos materiais de escavação e o acesso dos materiais de construção.

A solução adotada no troço final em Alcântara é, mesmo, um absurdo, um verdadeiro atentado em termos paisagísticos e ambientais. O túnel atravessa o Baluarte do Livramento (monumento com grande valor histórico, pois fazia parte do sistema de defesa da cidade de Lisboa durante a Guerra da Restauração, em meados do século XVII), obrigando ainda à demolição de várias construções antigas. A cereja no topo do bolo é a instalação da estação Alcântara a meio do acesso à Ponte 25 de Abril, o que obriga à demolição de construções dos dois lados, para a instalação de novas vias de acesso. Oxalá que, conforme se ouve dizer, a construção da estação naquele local não venha a servir de pretexto para o encerramento do referido acesso à ponte.

Quanto a ligações à Estação de Alcântara-Terra e à Linha de Cascais nada está previsto no projeto. Além disso, a localização da estação de Metro naquele local torna essas ligações muito difíceis ou praticamente impossíveis de concretizar no futuro.

Embora o referido EIA tivesse tido pouca divulgação, tem-se assistido nas últimas semanas a forte contestação ao projeto, particularmente dos residentes de Campo de Ourique e de Alcântara. Apercebendo-se da situação, a empresa do Metro apressou-se a realizar sessões de esclarecimento, de modo a procurar acalmar os ânimos. Contudo, em resposta às críticas mais controversas, a resposta do Metro é, invariavelmente, que estudaram outras alternativas, mas as soluções apresentadas no projeto são as melhores. Só que nunca dizem quais as alternativas estudadas. Ora, existem alternativas melhores!

Conforme consta de um documento que enviei à APA – Agência Portuguesa do Ambiente no âmbito da referida consulta pública, o projeto deverá ser profundamente alterado.

Assim, deverá ser criada uma estação adicional em Campolide e as estações Amoreiras e Campo de Ourique deslocalizadas um pouco para diante, de modo que a distância entre elas passe a ser, de facto, da ordem de 800 metros. A estação Campolide seria localizada na Rua Marquês de Fronteira (no cruzamento com a Av. Miguel Torga e a Rua Artilharia Um); a estação Amoreiras na Av. C. Mota Pinto (do lado nascente do reservatório da EPAL) e a estação Campo de Ourique na Rua Francisco Metrass (a nascente da igreja Santo Condestável), onde os impactes da sua construção serão muito menores que no “Jardim da Parada”. A estação Infante Santo ficaria no mesmo local preconizado no projeto, mas disposta paralelamente aos prédios ao longo da Av. Infante Santo.

Quanto à estação Alcântara deverá ficar localizada sobre a Estação de Alcântara-Terra (término da Linha de Cintura), integrada num grande Nó Intermodal, um “5 em 1”: Estação Ferroviária da Linha de Cintura; Estação de Metro da Linha Vermelha; Estação Ferroviária da Linha de Cascais; ligação pedonal à Estação Alvito (no Eixo Ferroviário Norte/Sul) e terminal de autocarros da Carris. O atravessamento do vale será bastante mais curto (menos de 200 metros) e os impactes ambientais, tanto durante a construção como locais, serão insignificantes.

Em termos comparativos, a redução de custos e de impactes desta solução em relação à solução do projeto, compensa largamente o acréscimo de custo resultante da construção de mais uma estação intermédia. Além disso, a funcionalidade do sistema melhora drasticamente.

A obra seria, assim, complementada com duas obras adicionais: uma ligação pedonal (através de escadas rolantes) à Estação Alvito e um túnel ferroviário de ligação da Linha de Cascais (em Alcântara-Terra) à Linha de Cintura, com a construção de uma nova estação em Alcântara-Terra, a qual passará a ser um término da Linha de Cascais alternativo ao Cais do Sodré.

A interconexão dos comboios suburbanos da Linha de Cascais com os da Linha de Cintura, bem como com os da Linha Vermelha do Metro, permitirá fácil acesso à parte alta da cidade (Avenidas Novas, etc.), dispensando, assim, milhares de passageiros da passagem diária pelo Cais do Sodré.

Este túnel terá pouco mais 600 metros de extensão. Em Alcântara-Mar, a rampa de acesso inicia-se logo a seguir ao Caneiro, de modo a ganhar altura para passar por baixo da Av. 24 de Julho. Após passar sob o largo fronteiro ao Palácio das Necessidades, o túnel acede ao perímetro da atual estação Alcântara-Terra, passando por baixo da Rua Maria Pia. Ao lado da nova estação (que ficará enterrada) uma linha em rampa fará a ligação entre a Linha de Cascais e a Linha de Cintura dos comboios de mercadorias de (e para) o Terminal de Contentores de Alcântara.

As obras públicas não podem ser caprichos dos decisores públicos que, transitoriamente, ocupam os cargos de poder. Na sua realização devem ser adotadas as melhores soluções; é o nosso futuro coletivo que está em causa.