Todos sabemos que a pressa é a mãe de muitos males. A nossa sabedoria popular está cheia de provérbios sobre esta verdade e contudo a sociedade do imediatismo exerce uma pressão constante para deixarmos para trás este conhecimento. Digo isto a propósito da maratona de dia 21 de Junho, onde em 75 minutos os nossos deputados pressionados pela agenda mediática, decidiram seguir em frente para a aprovação apressada dos diplomas da suposta reforma florestal do governo. Sabemos o mal que os curtos ciclos provocam nos empreendimentos humanos, como por exemplo os ciclos eleitorais para os políticos ou os relatórios trimestrais para os administradores das empresas. No primeiro caso as medidas são tomadas tendo em atenção os ciclos de 4 anos até a umas próximas eleições, no caso das empresas para satisfazer a necessidade de resultados todos os trimestres, e todos nós conhecemos os desastres que esta lógica origina, por exemplo a profunda crise financeira que ainda sofremos.

Assim, deixo aqui os dilemas que deviam ser enfrentados pelos nossos decisores nos dias que correm, no que toca a produzirem saídas para a crise gerada pelo drama de Pedrógão Grande:

Curto prazo ou longo prazo – Sendo óbvio considerar que estando em causa um assunto tão importante se deveria começar por encarar um caminho que leve à obtenção de transformações sólidas e não ganhos rápidos mas pouco adequados. A escala temporal necessária para as transformações não se coaduna com análises superficiais e apressadas, nem tão pouco a manobras tácticas de relações públicas e de gestão de crises mediáticas. Isto é o que se tem passado nas últimas décadas no que se refere ao problema dos fogos, temo-nos concentrado no curto prazo e no combate e não nas condições estruturais da floresta, Pedrógão poderia ter sido bem menor se se tivesse pensado no longo prazo;

Sintomas ou causas – Análises apressadas levam a erros de observação, é fácil confundir o que se observa quando estamos a olhar de um mau miradouro. Padecendo de uma doença grave a melhor estratégia é tratar a causa e não os sintomas. Este dilema dentro da linguagem mais actual da formulação de problemas chama-se de usar alternativamente o system thinking ao mais ineficaz sympton thinking, sendo o mais fervoroso adepto actual do sympton thinking o nosso conhecido Donald Trump, com as suas políticas contra as alterações climáticas ou anti emigração. Os fogos florestais são consequência de um grande número de causas, sejam elas climatéricas, sociais, ambientais e tantas outras. Usar-se ferramentas de análise e de formulação de problemas complexos evita que se confundam as dimensões e os caminhos são melhor identificados. Pedrógão poderia ter sido menor se perante a situação se tivessem utilizado melhores ferramentas e mais sofisticado conhecimento, tanto durante a ocorrência, como na elaboração das políticas públicas ao longo do tempo.

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Ouvir ou integrar as partes interessadas – Grande atenção deve ser dada às partes interessadas, na formulação dos problemas como também nos contributos que podem trazer. Contudo esta atenção não se deve resumir a organizar umas sessões de escuta e depois decidir sem considerar os contributos das partes interessadas. As vantagens de mobilizar e de integrar as visões e soluções das partes interessadas estão estudadas e devidamente valorizadas nas práticas de qualquer organização moderna e eficiente. Os diversos actores e agentes do sector encerram em si um múltiplo conhecimento sobre o tema, que deve ser integrado e valorizado, por exemplo se somos um País maioritariamente de propriedade florestal privada, não devemos elaborar políticas públicas ignorando os proprietários e produtores florestais e as suas representações colectivas. Pedrógão poderia ser menor se as verbas do Fundo Florestal Permanente fossem utilizadas para a promoção do associativismo florestal (para o que foi criado) em vez de financiarem um sem fim de acções que deveriam ser asseguradas pelo OE.

Liderança consciente ou surfar as ondas mediáticas – O momento que vivemos é um dos momentos definidores em que capítulo da história vão constar os actuais protagonistas políticos e técnicos do nosso País. Vão conscientemente assumir a importância histórica e a necessidade de se transformarem as políticas vigentes até à data ou vão reagir a uma agenda imediata deixando passar ao lado a suas responsabilidades de pensarem um País melhor no futuro e não uma agenda político-mediática tranquila nas próximas semanas. Pedrógão poderia ter sido menos grave se perante as crises de 2003 e 2005 se tivesse optado por uma visão completa do problema e não uma visão parcial, só privilegiando a produção regulamentar imediata e a estruturação da protecção civil.

Engenheiro florestal e membro do Conselho Geral da UTAD – Universidade de Trás os Montes e Alto Douro