Parem por favor de me enviar currículos em Comic Sans!

Não. A Comic Sans não é um tipo de letra giro e divertido. Não. A Comic Sans não dá a percepção que quem a usa é um tipo criativo! Não. A Comic Sans não, por favor!

Chegado a Setembro, regressado das férias, há que arrumar a caixa de email. Pelo meio das dezenas de emails que ficam a boiar nas minhas férias aparecem sempre alguns com currículos anexados. E há currículos bons, currículos maus e currículos escritos em Comic Sans. E o que isto quererá dizer? Será que a minha primeira forma de avaliação é o tipo de letra? Não é. Excepto se for em Comic Sans.

Sendo eu na minha outra vida designer (sim, há vida para além da academia), não posso deixar em claro este tipo de pormenores.

Primeiro, este tipo de letra desenhado por Vincent Connare não tinha como objectivo substituir os tipos de letra habitualmente usados em texto. A letra foi desenhada para resolver um problema de comunicação no Microsoft Bob, uma plataforma da Microsoft anterior ao Windows 95.

Segundo Vincent Connare, a letra foi desenhada quando recebeu a versão beta do Microsoft Bob. Este software tinha um cão chamado Rover que “falava” com os utilizadores através de uns balões de banda desenhada com texto em Times New Roman. Connare afirma em determinada altura que a Comic Sans não fora desenhada como tipo de letra, mas sim como a solução para um problema, pois de facto não fazia, e não faz, muito sentido ter um balão de conversação com letras clássicas. Este designer da Microsoft diz-nos ainda que não havia a intenção de incluir este tipo de letra noutras aplicações.

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Mas foi. E porquê? Porque muitas vezes é melhor usar a Comic Sans em vez da Times. E com este argumento o Windows 95 lá ganhou um tipo de letra no seu sistema que ainda hoje nos persegue! Pelo menos a mim! Se muitas vezes é melhor usar um tipo de letra como a Comic Sans, acreditem que não estamos a falar de currículos! Nem de propostas de emprego. Nem de coisas sérias tão pouco.

Este tipo de letra tem de facto muito poder! Sobreviveu a um projecto fracassado da Microsoft, integrou um sistema operativo há 20 anos e ainda hoje volta, não volta, aparece para nos assombrar.

Tem tanto poder que até a Apple quando lançou os e-cards, pasmem-se!, eram escritos em Comic Sans.

Eu cá gosto de acreditar que o poder da Comic Sans se resume a poupar-me tempo. Cada currículo em Comic Sans que recebo é menos um que leio!

Dean da Escola de Tecnologias, Artes e Comunicação na Universidade Europeia

Vice-Reitor no IADE-U

carlos.rosa@universidadeeuropeia.pt