A inteligência artificial e a automação são uma realidade incontornável. Devemos decidir (o quanto antes) como nos vamos posicionar em relação a essa mudança de paradigma. Para além das preocupações com a nossa segurança, que o excesso de autonomia das máquinas provoca, muitos temem a extinção de postos de trabalho. Computadores e algoritmos vão permitir substituir até trabalhos técnicos que hoje são considerados moderadamente complexos. Indubitavelmente, estas mudanças vão extinguir milhões de postos de trabalho na próxima década. Muitos outros novos serão criados. Mais do que temer, ignorar ou até resistir esta mudança de paradigma, devemos investir tempo em (também) prepararmo-nos para este futuro próximo. É na escola que começa este trabalho.

O mundo muda rápido. As escolas não. E o problema é que o custo desta inércia é cada vez maior. O Horace Dediu dedica-se ao estudo de tendências e calculou as curvas de adoção (deste invenção até obsolescência) de diferentes tecnologias. O barco a vapor foi inventado no início do século XIX, mas a sua adoção em massa aconteceu 100 anos depois, no início do século XX. A eletricidade apenas precisou de 50 anos para ser adotada em massa, o micro-ondas 30 anos, o telemóvel 10. O ciclo tecnológico das inovações é cada vez menor. Que implicação tem isto para as escolas?

O Fórum Económico Mundial estima que 65% dos jovens que entraram recentemente no ensino formal vão trabalhar em funções e profissões que hoje ainda não existem. Que papel deve a escola ter num mundo que muda cada vez mais rápido? Como pode a escola preparar os jovens para um mercado de trabalho cada vez mais mutável?

Que competências vão precisar os jovens para triunfar no mercado de trabalho do futuro? Com o acréscimo da automação, aumenta a importância de competências insubstituíveis, tais como a criatividade, a inteligência emocional, o trabalho em equipa, a gestão de pessoas (também conhecidas por competências sócio-emocionais). De acordo com o McKinsey Global Institute, cerca de 80% dos novos postos de trabalho vão depender sobretudo de dois grupos de competências principais: tecnológicas e sócio-emocionais.

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Se as escolas querem preparar os nossos jovens para o futuro, devem reorganizar-se para ensinar essas competências que mais lhes vão fazer falta – tecnológicas e sócio-emocionais. Os esforços feitos até hoje nesta direção são de louvar (nomeadamente iniciativas para ensinar programação a jovens), mas os resultados ainda são claramente insuficientes. A maioria destas iniciativas estão circunscritas a pequenos grupos de escolas, não havendo por parte do governo uma aposta séria, sistematizada e nacional para o desenvolvimento destas competências.

Hoje as escolas portuguesas e os Professores deparam-se com problemas e desafios complexos, cuja importância é inquestionável (plano de carreira de Professores, encerramentos de escolas, etc). Muitas escolas esforçam-se também para inovar e dar resposta às necessidades dos alunos. No entanto, o debate político sobre a Educação em Portugal foca-se maioritariamente nos mesmos temas na última década. Quanto deste debate foi dedicado a preparar e precaver a empregabilidade dos nossos jovens num mundo digital da automação?

Os países cujas escolas (e empresas) se orientarem para desenvolver as competências que já sabemos serem necessárias poderão capitalizar e beneficiar destas rápidas mudanças tecnológicas. Os países que ignorarem, resistirem ou, por diversas razões, se atrasarem a planear serão sujeitos ao papel que a sorte lhes destinar. Ocorre-me uma frase difícil de traduzir: “those who fail to plan are planning to fail”.

Empreendedor. Cofundador da DreamShaper.
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.