Na semana passada, escrevemos aqui sobre o sofrimento que é infligido aos pais e mães que, vítimas de alienação parental que não têm a possibilidade de conviver com os filhos durante o período das férias grandes. Fizemo-lo com base nos testemunhos reais de sete pais e mães.

Hoje comentamos a força e a coragem com que, mesmo na dor profunda vivenciada no dia a dia de muitos anos que passam, estes pais se recusam a desistir de lutar para voltar a estar com os seus filhos e as suas filhas. Voltamos assim a escutar o José, pai de Sara de 14 anos (pais separados há 8 anos), Francisco, pai de dois filhos Ana de 13 anos e João de 9 anos (pais separados há 4 anos),  Anamar, mãe de Carolina de 15 anos (pais separados há 7 anos), Afonso, pai de dois filhos de 17 anos e filha de 15 anos (pais separados há 3 anos), Bruno, pai de Luís de 7 anos (pais separados há 6 anos), Miguel, pai de três filhos, Filipa de 4 anos, Rita de 9 anos e Tiago de 21 anos (pais de Filipa separados há 4 anos), e Inês, mãe de Vera de 12 anos (pais separados há 5 anos), todos nomes fictícios.

Começamos por partilhar testemunhos de felicidade de pais e mãe que, após dias, meses ou anos estiveram impedidos de poder estar com os filhos e filhas durante o período de férias. Foi a sua luta pelo direito a estar com os filhos, a sua persistência em não desistir que fizeram com que, este ano, pela primeira vez, conseguissem inverter a sua situação. O pai Bruno relatou que, após seis anos sem lhe ser permitido pela mãe ter férias com o filho, conseguiu ter essa felicidade: “Esta é a primeira semana de férias com o meu filho após 6 anos de separação da mãe. Está a ser maravilhoso” (sic). Ou como nos contou a Vera que, após 4 anos sem poder passar férias com a filha, pode finamente fazê-lo este ano: “Durante 4 anos, a minha filha e eu nunca passámos férias juntas. Dos quase 8 anos de idade até aos 12 anos da minha filha”. Ou, como nos partilhou o Miguel depois de vários anos sem férias com a filha: “Em contraste, este ano que tivemos todos férias foi possível ver memórias construídas juntos que ficaram para a vida, um sentido de rotina em paz durante as férias em que todos sabiam o nosso lugar a mesa, com espírito competitivo de desenvolvimento: deixar de utilizar a boia na piscina, nadar de cuecas na piscina (não fato de banho) ao fim de dia de calor, o primeiro salto no pónei e melhorar a postura a cavalo de uma forma incrível, e o dormir na tenda juntos com a cadela! A paz de saber que tem 5 dias com pai e 5 dias com mãe, tranquilidade”.

Os pais que ainda não tenham tido a oportunidade de inverter a sua situação podem pensar em formas de fortalecer a resistência à dor da extorsão a que são sujeitos. Embora não lhe seja permitido estar com a filha, Francisco tem a certeza de que as boas memórias não lhes podem ser roubadas: “Francisco relata: “Os meus filhos têm uma família que os ama. Um pai que não vai desistir deles, dois avós maravilhosos com quem sempre se deram muito bem, duas tias e dois tios que os adoram, e dois primos com quem brincaram e se divertiram imensas vezes. Ninguém lhes vai apagar essas memórias”.

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Não é possível roubar as boas memórias, como também não é possível roubar a possibilidade de sonhar. Francisco não desiste de continuar a sonhar as férias com a filha, sendo um exemplo de muitos pais que têm a cama dos filhos feita e os seus brinquedos no quarto à espera que regressem a casa, ou também uma lista de atividades possíveis à espera que que os filhos regressem: “Há quatro anos que idealizo umas férias minimamente decentes para os meus filhos: uma viagem ao Minho a casa dos avós (de carro ou no Alfa Pendular), um almoço/jantar com toda a família, um passeio pela cidade de Barcelos, contacto com o dia-a-dia da vida do campo (cuidar das plantas do jardim, participar nas atividades do quintal e da horta, cuidar dos animais domésticos, “passear” no trator dos avós), molhar os pés nas praias de Esposende e Viana do Castelo, uma visita ao Bom Jesus de Braga e ao Sameiro, ao Gerês, e porque não, visitar os tios do Porto e convidá-los para comer uma francesinha ou fazer uma viagem de comboio até à Régua. A minha filha adora voleibol e andar de bicicleta. O meu filho tem mais queda para o futebol. Se me fosse possível, pelo menos uma hora ou duas por semana, para estas atividades com os meus filhos, isso já seria um cenário muito mais proveitoso do que aquele que estamos a assistir…”.

Muitos pais atenuam a dor da separação atuando junto dos tribunais na expectativa de que a Justiça garanta o exercício da lei que estabelece o direito dos filhos a manterem uma relação afetiva com ambos os pais, o direito dos pais a participar nas decisões mais relevantes da vida dos filhos, penalizando o ato de decisão unilateral se um dos pais não o fizer e excluir o outro da vida dos filhos. A este propósito Afonso referiu: “Como Pai, sempre solicitei ao tribunal para estar presente em momentos significativos, como o Natal, as férias de Carnaval, a Páscoa e o Verão. Infelizmente, as minhas solicitações eram constantemente respondidas fora de prazo, e todos aqueles momentos que tanto ansiava passaram-se sem a minha presença. Entretanto, a mãe levava os filhos para locais desconhecidos, longe de mim, afastando os filhos da relação com o seu Pai (…) Tenho esperança de que a justiça prevaleça, seja através do tribunal, do recurso à Relação, ou da intervenção de outras instituições e dos media. Pretendo expor as falhas nos processos, como a falta de fundamentação nas decisões, ocultações de informação e injustiças que ultrapassam os limites legais (…) A dor da alienação causada por manipulações e mentiras é imensa, e sinto que as instituições judiciais falharam em proteger a ligação familiar, que é essencial para o bem-estar da criança. É a minha missão assegurar que os meus filhos cresçam em um ambiente saudável, com princípios e valores que reforcem a sua formação”.

São vidas dolorosas, cheias de cicatrizes deixadas pela luta, mas a recusa de desistir é mais forte, como também nos refere Afonso: “Neste doloroso episódio, enfrentei a perda dos meus filhos, mas recuso-me a desistir. A minha prioridade agora é aguardar a aprovação de sessões de parentalidade, que são fundamentais para restabelecer a nossa relação. É vital que eles tenham a oportunidade de confrontar a verdade e esclarecer as suas dúvidas, reconhecendo que também são vítimas nesta situação”.

A alienação parental de crianças e jovens tem repercussões negativas ao longo de toda a sua vida. Como referiu o Afonso: “Esta situação não afeta apenas o meu papel como pai, mas compromete diretamente o futuro dos meus filhos, que merecem crescer rodeados também do amor do Pai. Estou comprometido a recuperar o tempo perdido e a restabelecer o vínculo que sempre existiu entre nós”.

Terminamos com os testemunhos de uma mãe, Anamar, e de dois pais, Afonso e José que são verdadeiras mensagens de esperança de que, um dia, os pais e mães podem voltar a abraçar aquele filho que, agora, está ausente.

Anamar escreveu diretamente filha: “Porque os anos passam e ainda não nos libertaram, irá acontecer, acontecendo. No final do dia, quando te encontro, eu danada, cansada, quase vencida, olho-te, sinto-te. Sempre sinto ainda mais a tua beleza florescer, sim meu amor, somos mãe e filha. Só isso. Simplesmente, nada mais. Obrigada. (não me deixes desistir)”. Afonso apelou a que não se desista de lutar na justiça pelo direito a pais e filhos estarem juntos: “A mensagem que retiro desta experiência é clara: a justiça e a verdade devem prevalecer, não só nas decisões judiciais, mas na vida dos nossos filhos, que precisam de amor e apoio de ambos os pais. Estou determinado a lutar por essa justiça e a restaurar o nosso vínculo, para que os meus filhos entendam que, assim como eu, também foram vítimas de uma situação dolorosa que nunca deveria ter acontecido”. José partilhou a ideia de que a partilha da sua experiência é fundamental para que os outros pais e mães que também não podem ter férias com os filhos, sintam que não são os únicos, que não estão sozinhos: “É muito importante que outros como eu e há muitos como eu, se revejam na minha experiência e saibam que não estão sozinhos, na esperança de um dia poderem alcançar o que outros conseguiram, com total sucesso”.

A mensagem que pretendemos aqui sublinhar é esta mesma, a de que todas as mães e pais que não têm consigo os filhos, nunca desistiam deles, nunca desistam de lutar por filhos que são vítimas de alienação e que, eventualmente, procurem o apoio especializado que possa ajudar a alcançar esse objetivo, para o bem-estar de todos.