Saúde mental não é estar feliz a toda a hora. Nem pespegar um sorriso no rosto, por mais que nada nele corresponda aquilo que se sente. Nem declarar que somos “resolvidos”. Ou mascarar com auto-estima as inseguranças “vencidas” no folheio dum livro de auto-ajuda por onde se passou.

Saúde mental significa sermos verdadeiros. Com aquilo que sentimos e com os outros. Sermos menos pensativos e mais espontâneos. Convivermos com a diversidade dos pensamentos de que somos capazes. E com as contradições que ela nos traz. E esmiuçar. E escarafunchar, no meio de tudo isso que se move, um veio de luz com que se aviva uma convicção que liga e liga. E nos remexe.

Saúde mental é estarmos stressados por parvoíces. Haver dias de “nervoso miudinho”. Estarmos tristes. Termos fúrias. Mas não se ficar nem pela raiva nem pela mágoa. É escutar o corpo, quando ele fala sempre que a mente se constipa. E conversar com aquilo que se sente. Porque sem a palavra que nos escapa falta o essencial com que se desfia e se costura todo o pensar.

Saúde mental é trocar a resignação pelo desassossego. E a procrastinação pelo entusiasmo. É reconhecer que somos sensíveis e somos amáveis. E comoventes. E intuitivos. Embora parvos, às vezes. E aquém do amor. Sempre que ele se vive com favor.

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Saúde mental é sermos sensíveis à beleza. Porque ela liga e nos transforma. É reconhecer que só a comunhão nos torna jovens. Que só ela nos co-move. E nos leva ao encanto. Pelo júbilo dentro. Ou de festa em festa. E só assim se vence o medo.

Saúde mental é não usamos nem o pretérito nem o condicional quando queremos ser felizes. É poupamos no “eu queria” ou nos “eu gostava”. E não fazer como quando as crianças fazem de monstros ou de heróis mas, antes, avisam: “agora, eu era”. Como se o melhor de nós fosse cada “faz de conta” que não nos deixa ser quem somos.

Saúde mental é dar tempo à impetuosa necessidade de crescer. É chorar sem vergonha. E não desencorajar o rir. E, mesmo quando tudo nos convida a desistir, é casar a memória com o desejo. Uma a uma, ousar lavrar cada mudança. Mesmo que, depois de outro falhanço, nos perguntemos, se ainda assim, queremos, só mesmo, ir. E vamos. E vamos. E voltamos a ir.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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