Se um vizinho nos pede ajuda, enquanto representantes do poder local, o nosso dever é encontrar de forma célere e eficaz, um modo de prestar auxílio. Não devemos ignorar os problemas que estão mesmo à nossa porta. A grande vantagem que advém da proximidade e da representatividade, das Juntas de Freguesia, acarreta também a grande responsabilidade de não defraudar as expectativas dos cidadãos, que se revêm neste tipo de entidades públicas, acreditando na sua capacidade de solucionar os seus problemas.

Mas, e se conseguíssemos construir mais e melhores sinergias para ajudar muitos mais vizinhos? E se pudéssemos ambicionar ir mais longe neste nosso compromisso autárquico?

Podemos e devemos unir esforços e criar ferramentas administrativas que possibilitem, por exemplo, o aparecimento de Consórcios ou Comunidades Interfreguesias (à semelhança do que já existe, e com sucesso, com as autarquias), o aumento de capacidade de resposta e aprofundamento do trabalho em rede entre as entidades locais. Com este tipo de sinergias, seria possível ter acesso a um leque diversificado de candidaturas a fundos estruturais ou comunitários, que permitiriam realizar obras que sejam transversais a um conjunto de territórios e, assim, melhorar a qualidade de vida dos seus moradores, não pondo em causa a sua identidade ou autonomia de gestão.

Atualmente, existem 3091 freguesias em Portugal, pequenas unidades político-administrativas no quadro macro da máquina da administração pública, mas que todos os dias realizam funções de vital importância para o funcionamento do Estado e representam, para grande parte dos cidadãos, a única relação direta e confiável com esta entidade governamental. Como um todo, podem contribuir de forma significativa para restabelecer a confiança e credibilidade nos atores políticos, especialmente nestes dias em que vivemos, de incessantes polémicas e ecos de descrença naqueles que nos representam na vida democrática. Não há nenhum ingrediente secreto nesta receita, sentimo-nos mais próximos de um poder político que verdadeiramente nos representa, que tem conhecimento dos nossos problemas e que consegue atuar com rapidez para a sua resolução.

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Ansiamos por voltar à base, por dar significado pleno à origem etimológica da palavra ‘política’, que remonta, na sua génese, à participação da comunidade na vida pública. Precisamos de trazer os cidadãos para mais perto de nós, que diariamente estamos nas ruas a construir modelos e políticas de proximidade.

Com a iminência de mais um ato eleitoral, importa seguramente refletir sobre os níveis de confiança dos nossos cidadãos em relação aos políticos. Todos somos capazes de reconhecer a falta de envolvimento da população em relação à vida política, o desinteresse e alheamento dos jovens, que se traduz em elevados níveis de abstenção.

Talvez a resposta esteja mais perto do que imaginamos, longe dos gabinetes dos ministros, ou dos corredores da Assembleia da República, e ainda mais distante das infindáveis discussões sobre políticas públicas, a que muitas das pessoas estão completamente alheadas, ou que em nada respondem à verdadeira origem dos seus problemas diários. Encontramos dados muito interessantes em estudos realizados recentemente, que demonstram que apenas 33% dos portugueses confia no Governo. Mas quando olhamos para a proximidade, percebemos que 70% confia no papel das Juntas de Freguesia.

Sem a possibilidade de uma verdadeira reforma constitucional, a breve trecho, é fundamental começar a dar passos para aumentar essa mesma representatividade nas estruturas locais, para que possam servir este propósito de envolvimento dos cidadãos nas ações políticas, promovendo a cidadania ativa e a democracia plena.

Na freguesia de Benfica, em Lisboa, o trabalho que temos vindo a desenvolver tem-nos permitido compreender o que o poder local pode e deve ambicionar fazer, não excluindo o dever intrínseco do poder central, mas complementando-o e legitimando-o. Nos dois últimos anos realizámos 24 reuniões públicas, abertas a todos, sem nenhuma triagem que condicione a participação dos cidadãos. Há cerca de um ano, promovemos o primeiro e único referendo local na cidade de Lisboa, para auscultarmos a nossa comunidade sobre a expansão da operação da EMEL a novas zonas da freguesia, respeitando o resultado desse sufrágio. A adesão dos nossos fregueses foi inquestionável com a participação de mais de 9500 eleitores, porque o que estava em causa impactava diretamente a sua vivência diária no território.

Ao apostarmos numa maior descentralização para as freguesias, e na sua capacitação, bem como num aumento dos seus meios de intervenção, conseguimos aumentar a nossa coesão territorial e reforçar a apreciação dos cidadãos sobre a força, representatividade e relevância de votarem.

Ao ouvirmos e ajudarmos cada um dos nossos vizinhos, estamos a criar um caminho em que ganhamos todos. Mais do que isso, estamos a devolver a política ao primeiro lugar onde ela deve ser discutida: a comunidade.