Ao longo da história, há várias mulheres que tiveram uma grande influência e um papel crucial nas áreas da Saúde e da Tecnologia. Não foi nada fácil, uma vez que as mulheres eram relegadas para o papel de mães e cuidadoras. Mas apesar de todos os obstáculos e constrangimentos sociais, é graças a elas que hoje temos possibilidade de fazer muito mais.  Alguns exemplos, quer de hoje, quer do passado, inspiram-nos a quebrar barreiras e a transformar o mundo.

Recuando ao século XIX, uma época em que a maioria das mulheres não tinha acesso à educação, uma das mulheres que para mim é uma grande fonte de inspiração é a Florence Nightingale. Fundadora da enfermagem moderna, durante a guerra da Crimeia (1853-1856), Nightingale reduziu a taxa de mortalidade dos soldados ao melhorar as condições sanitárias existentes. Foi também uma grande pioneira em Estatística na saúde pública, tendo sido a primeira mulher a ser eleita membro da Sociedade de Estatística de Londres. Além do contributo gigante que deixou a nível dos cuidados de saúde, Florence mudou completamente a reputação da enfermagem.

Ainda no século XIX, uma mulher que também viveu nessa época e que me tem fascinado desde jovem é a Marie Curie. O polónio e o rádio foram descobertos por ela e é a única galardoada com dois Prémios Nobel em áreas diferentes, na Física e na Química. Embora não tenha inventado as máquinas de raios-X, contribuiu significativamente para o desenvolvimento da radiografia e da radioterapia. Curie teve um impacto social e cultural gigante para as mulheres na Ciência. O seu trabalho fez com que a sociedade reavaliasse o lugar da mulher no mundo da investigação científica. O exemplo de Curie motivou muitas mulheres a entrarem no ramo da Ciência. No entanto, continuam a existir dificuldades e, embora existam mais mulheres a trabalhar em Ciência e Tecnologia, passados 89 anos da morte de Curie, este número continua a ser inferior ao dos homens.

Atualmente, apesar de ainda não existir tanta representatividade feminina como masculina, o contributo da mulher em Saúde e Tecnologia é cada vez mais digno de nota.  Laureada com o Prémio Nobel da Medicina de 2023, a cientista húngara Katalin Karikó mudou o mundo com o seu contributo para o desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19. Nunca tínhamos vivido uma pandemia a esta escala, provocada por um vírus. Recordo-me que duas semanas antes de fecharem as fronteiras em Portugal, eu estava em Itália, completamente alheia ao que iria acontecer. Ainda era estudante universitária, e regressar à faculdade depois das férias, com a notícia de que as aulas passariam a ser online deixou-me bastante apreensiva. A nossa vida mudou radicalmente e a nossa liberdade ficou condicionada. Atividades banais como ir às compras, tornaram-se um verdadeiro desafio. Houve uma degradação da saúde mental, para não falar das pessoas que adoeceram e perderam a vida. Mas, felizmente, tudo voltou à normalidade com o trabalho de Katalin e dos seus colegas.

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Para mim, é quase impossível imaginar-me a viver numa época em que dificilmente teria acesso à educação, não teria acesso ao voto e não seria verdadeiramente independente.  Nightingale, Curie e Karikó são um exemplo de coragem e resiliência. Desafiaram a sociedade e lutaram não só por elas, mas também para melhorar a vida dos outros. É graças ao seu legado que hoje existe um número muito maior de mulheres com oportunidades para também fazerem a diferença.

Sejamos, por isso, Florence Nightingale, Marie Curie e Katalin Karikó.

O Observador associa-se à comunidade PortugueseWomeninTech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.