Diz João Noronha Lopes que quer festejar vitórias e não vendas. Não posso estar mais de acordo. Acredito mesmo que o que falta ao Benfica são resultados, vitórias, voltar a ser grande.  Noronha Lopes defende  que as vendas são consequência das grandes vitórias. Já as grandes vitórias nunca foram consequências das vendas. Ao defender este princípio, Noronha Lopes faz aquilo que esperamos de um líder: relembrar a todos os benfiquistas que, a cada ano que passa, os resultados do clube são cada vez mais medíocres. Isto é especialmente verdade nos palcos internacionais, os que melhor definem o Benfica. Deixámos de ter uma equipa com qualquer ambição europeia, o que, para quem frequentemente justifica o problema do Benfica com a falta de escala do mercado nacional, deveria ser uma enorme preocupação. Não tem sido.

Veja-se o que aconteceu neste último campeonato. O Sporting ficou em quarto lugar. As suas contratações foram sofríveis (para não dizer pior), teve quatro treinadores e o maior número de derrotas numa época em toda a sua história. Esta situação não é mais dramática para o nosso rival porque estivemos pouco melhor – pior, porque nos contentamos com a comparação com os que pior estão. O Benfica, que deveria ter por vocação ser sempre um dos grandes da Europa, é hoje um clube mediano quando comparado com outros clubes europeus candidatos a provas europeias.

É por isso que um projeto desportivo teria muito a ganhar com o préstimo de um presidente com provas dadas em quatro continentes e um percurso internacional como poucos. Conheci-o no Conselho da Diáspora Portuguesa, onde é por todos considerado um dos mais destacados e reputados gestores portugueses, com uma carreira e uma experiência internacional ímpar em países como os Estados Unidos, a China, a França, ou Marrocos. Não é um mero pormenor. Fala-se muitas vezes da singularidade do nosso futebol e dos desafios que isso acarreta ao nível da gestão. Vale a pena relembrar que Noronha Lopes geriu equipas, orçamentos e dossiês de enorme complexidade em ambientes organizacionais que o preparam para quaisquer desafios que possa ter pela frente no Benfica.

Reconheço-lhe a coragem de avançar e assumir que o Benfica existe para ganhar campeonatos, erguer taças, “reviver as quartas-feiras” europeias que teimamos em não esquecer. Isso, sim, devem ser os objetivos de longo prazo. Mas ser do Benfica é ainda outra coisa. É erguer o cachecol em casa ou na bancada, em qualquer das modalidades em que estejamos envolvidos independentemente do grau académico, do dinheiro que temos, ou não, na carteira. É ser orgulhosamente de um clube que não distingue os seus sócios ou apoiantes pelo apelido ou pelo estatuto social. Noronha Lopes compreende esta essência. Tem o benfiquismo e a preparação necessária para cumprir o desígnio que escapa ao clube.

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