Durante as férias li uma notícia que me surpreendeu. A empresa americana de cereais Kellogg anunciou que ia deixar de requerer diplomas para o seu recrutamento. Já a IBM tem mais de 50% dos seus anúncios de posições de trabalho que não requerem diploma universitário. Também do lado dos jovens, nos Estados Unidos e no Reino Unido onde o preço de estudar numa universidade é muito alto, há cada vez mais jovens a ponderar se este investimento se justifica. Cada vez mais, as empresas oferecem alternativas como estágios, cujo objetivo é permitir aprender fazendo e assim acumular experiência, sem o custo associado a um curso superior.
Como professora universitária e parte da direção duma escola de negócios, eu, claramente, acredito muito no valor de um diploma universitário. Mas por outro lado, o meu filho de 19 anos que decidiu formar-se através de um trabalho numa start-up (de educação) pensa de outra maneira. Então, será que realmente já não é necessário um diploma?
Do lado das empresas, num contexto de falta de talento e de grande dificuldade de recrutamento, parece fazer sentido abrir o leque de pessoas para recrutamento. Muitas vezes, as empresas usam o diploma universitário meramente como uma ferramenta simples de reconhecimento das competências. Em vez de avaliar os candidatos nas suas qualidades e competências, elas usam o diploma universitário como pré-requisito. Na realidade, num contexto de escassez de talento as empresas têm interesse em focar-se mais nas competências do que nos diplomas.
Do ponto de vista dos jovens, será que realmente vale a pena estudar, quando isso implica custos elevados acima do custo de oportunidade? Ou, pelo contrário, será que se consegue verdadeiramente adquirir as competências “on the job”, em estágios? A verdade é que continua a existir um prémio salarial para diplomados, muito significativo. Na Europa, esta diferença salarial é de 51% (comparado com 54% há 20 anos). Sem dúvida que em termos de remuneração continua a haver uma enorme justificação para estudar.
Quando olharmos para o futuro, sabemos que a complexidade está a aumentar. A proporção de empregos altamente qualificados na Europa cresceu dramaticamente, de 35% em 2000 para 53% em 2020. A mudança rápida da procura para competências pode também estimular a necessidade para diplomas. Uma outra questão é qual vai ser o papel da Inteligência Artificial nesta equação? Dum lado pode ajudar os não-diplomados em competências como a escrita ou ao contrário podemos pensar que a Inteligência Artificial vai criar necessidade de pessoas mais diplomadas e formadas para fazer pedidos mais adaptados.
Em conclusão, parece-me que vai haver cada vez mais procura para competências mais sofisticadas, a questão é como adquiri-las melhor e de maneira mais eficiente. Além dum curso universitário, abre-se a possibilidade de aprender fazendo…, mas só se as empresas que recrutam sem diploma investirem na aprendizagem, de maneira formal ou informal. A perspetiva do meu filho realmente merece ser ouvida!