Em dezembro, realizaram-se mais de cinco milhões de testes à COVID-19. Entre as crianças que testaram positivo e aquelas que estiveram em contacto com as primeiras, de um momento para o outro, turmas inteiras com idades inferiores a onze anos foram enviadas para casa.

A Unidade de Saúde Pública decretava, então, um isolamento de 10 dias para o infetado e a quarentena de 14 dias para os restantes alunos da turma. Foram períodos difíceis, com a necessidade de um dos pais entrar de baixa para apoio à família. Para regressarem à escola os alunos isolados tinham que apresentar um teste PCR negativo.

Quem é considerado contacto de risco? Quanto tempo dura o confinamento? Tenho direito a algum subsídio se o meu filho estiver confinado e eu tiver que ficar em casa com ele? E se eu estiver em teletrabalho, continuo a ter direito? Vou receber a 100%? Onde posso fazer um teste PCR? Todas estas questões estiveram na cabeça de muitos dos familiares das crianças a quem foi decretado o isolamento ou a quarentena.

Apesar de não estarem diretamente relacionadas com sintomatologia, estas dúvidas inundaram a linha SNS 24 que, uma vez mais, não conseguiu dar resposta. Sem um reforço da linha e sem soluções alternativas, um sistema pensado para dar resposta e encaminhamento médico, falhou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O poder local poderia ter tido aqui um duplo papel de resposta às questões burocráticas das famílias e ao mesmo tempo de alívio em relação ao SNS 24, através da criação de linhas locais, de âmbito municipal, de apoio às famílias em quarentena ou isolamento. Era relativamente simples e pouco dispendioso.

A solução não é inédita. A Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, por exemplo, disponibilizou desde cedo uma linha de apoio aos munícipes que não conseguem um contacto imediato com a Saúde 24. Também o município de Lousada criou uma linha telefónica especificamente para dar resposta aos doentes COVID – 19 em isolamento. Em maio de 2020 esta linha tinha já prestado auxílio a cento e oito famílias.

Em Sintra, o segundo concelho mais populoso do país e considerado, neste momento, como apresentando ‘Risco de Incidência Extremamente Elevado’, o ano terminou com centenas de crianças em quarentena ou isolamento. Só nos últimos dias do ano, foram registados cerca de 7.600 novos casos. Mais de dez por cento do total da Área Metropolitana de Lisboa.

Com o elevado número de casos de Covid-19 no concelho, houve atrasos na análise dos surtos, nas ordens de confinamento e de isolamento e no envio das receitas para a testagem necessária. Também as Unidades de Saúde Familiar, que já em contextos normais operam com grandes limitações, tiveram dificuldades em agendar em tempo útil as consultas para que fosse decretada a baixa de apoio à família.

Apesar destes números, na última Assembleia Municipal, que decorreu no passado dia 20 de dezembro, o Partido Socialista votou contra uma proposta para a criação de uma linha municipal de apoio às famílias das crianças confinadas.

A proposta, apresentada pela bancada do Partido Social Democrata, pretendia que fosse criada uma ponte entre as famílias, a unidade de saúde pública, as escolas e as unidades de saúde familiar; e ainda que se apoiasse as famílias no acesso à Segurança Social Direta.

Surpreendentemente e sem outros esclarecimentos, a bancada do Partido Socialista limitou-se a afirmar que “a Câmara de Sintra cumpre criteriosamente os acordos que tem estabelecido com as instituições”. E votou contra.

Fontes: Assembleia Municipal mencionada no artigo (1h37min):