O pensamento, no cenário pós-pandemia, antevia que o tempo que passamos no nosso dispositivo móvel diminuísse drasticamente, muito devido ao facto do levantamento das restrições. Porém, não podíamos estar mais enganados. Mesmo sem estar enclausurados dentro de quatro paredes, o tempo que despendemos ao telemóvel acabou por aumentar ainda mais, contra todas as expectativas.

Facto que é interessantíssimo de analisar do ponto de vista da competitividade. Caso existisse a ideia de que a evolução tecnológica no mercado dos smartphones ia abrandar, esta não mais passou do que uma efémera teoria, pois este mercado não só continua a evoluir, como está mais competitivo que nunca.

Peguemos no exemplo do Reino Unido para demonstrar o que aqui escrevo. Os utilizadores britânicos, em média, no ano de 2022, e segundo dados do State of Mobile 2023, passaram mais de quatro horas por dia nos seus dispositivos móveis. Fazendo um cálculo muito rápido, se o dia tem 24 horas – nas quais muitas são passadas a dormir – estes dados revelam-nos que, cada vez mais, pessoas e smartphones são como unha com carne.

Importante para esta discussão, além de perceber o porquê deste vínculo, é oportuno identificar quais são as aplicações que os consumidores mais utilizam. Neste sentido, o gaming tem sido um ator emergente. Segundo o mesmo estudo, o crescimento deste segmento, no mundo dos smartphones, foi responsável (no ano de 2022) por 66% dos downloads efetuados em lojas virtuais como a App Store. Facto que, se olharmos tendo em conta a vertente económica, tem potenciado um crescimento desta área. Mais de mil aplicações ultrapassaram os 9 milhões de euros, mais de duzentas cruzaram a barreira dos 90 milhões e dez chegaram à meta dos 900 milhões de euros.

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No ar paira a pergunta de como isto pode ser possível, mas a resposta não é difícil. Jogos como o tão famoso Subway Surfers marcam o quotidiano de milhões de pessoas e geram receitas como as descritas acima, mesmo sendo jogos completamento gratuitos.

Podemos associar este crescimento como reflexo dos hábitos e costumes da GenZ que, ao dia de hoje, parece já não conseguir viver sem um smartphone na sua mão. E, por mais críticas que possam existir alocadas à dependência excessiva do dispositivo móvel, creio que esta pode ser vista de uma outra forma: atualmente tudo se encontra à distância de um clique.

Queremos comprar algo? Fazemo-lo com o telemóvel. Queremos ir para algum lado? O telemóvel guia-nos. Queremos encomendar comida? O telemóvel permite-nos fazê-lo. Podemos até ir mais além, onde o smartphone pode mesmo constituir-se como uma ferramenta no combate à solidão.

Aplicações como o Tiktok, o Youtube ou o Spotify acabam por ter uma presença ativa no nosso quotidiano, entretendo-nos e constituindo-se como um fenómeno que ultrapassa a questão geracional. A nível económico, existe também aqui uma particularidade interessante, uma vez que é em aplicações gratuitas como o Tiktok ou o Youtube onde os consumidores mais dinheiro gastam. Isto porque estas permitem aos seus utilizadores efetuarem doações aos criadores de conteúdo que os mesmos suportam.

Na sua globalidade, a utilização dos smartphones continua a crescer e a tendência para o tempo gasto em aplicações sociais tende a aumentar. Restringir o smartphone à sua vertente pré-histórica de só servir para fazer chamadas e trocar mensagens é um engano, pois hoje, um smartphone, não só pode ser quase tudo o que uma pessoa desejar, mas, se pensarmos bem, é o único objeto de que não prescindimos. Se o esquecemos quando saímos de casa, muito provavelmente, voltamos atrás para o ir buscar, pois não podemos passar o dia sem o nosso smartphone.