O primeiro-ministro insultou-me: deve-me um pedido de desculpa.
Deve-me um pedido de desculpa não (apenas) porque me mentiu, mas porque me insultou.
Há três não novidades: a capacidade de mentira de António Costa, a incapacidade de liderança de Marta Temido, e a falta de qualquer capacidade de (des)Graça F(r)eitas. Mas há uma enorme novidade: a capacidade de insulto do primeiro-ministro. Não afirmo isto como médico, que sou, mas como português.
Em tempos de crise, há uma coisa que não pode faltar: a verdade. E isso mesmo lembrou o Presidente da República, mentindo. E não pode faltar verdade porque mentir agora, aparte de ser duma covardia indescritível, tira toda a legitimidade. E eu, cidadão, não posso ver a legitimidade do Primeiro-Ministro questionada. Porque senão tudo aquilo que ele pede aos portugueses, que é tanto, é questionável também.
Ao dizer que nada falta, nem faltou, no SNS insultou-me em todas as minhas versões. Insultou-me como médico porque eu vejo os meus colegas na linha da frente sem materiais de proteção, a usar as mesmas máscaras 12h seguidas e a ver doentes sem cuidados mínimos. Insultou-me como utente do SNS porque eu vejo os hospitais a pedirem ajudas e donativos. Insultou-me como munícipe porque eu vejo o meu presidente de câmara tomar as decisões que o primeiro-ministro não toma, ou tardou em tomar. Insultou-me como ser racional e pensante porque me diz que temos capacidade de fazer 30.000 testes diários, o seu secretario de estado fala em 4.000 e o relatório da DGS de ontem mostra um total de positivos + negativos de 1419, quando dia 21 era de 1913.
Insultou-me como português porque eu vejo 10 milhões de nós a darmos o que temos e o que não temos. E se o fazemos, é porque falta tudo, e não porque não falta nada. A si, Senhor Primeiro Ministro, falta-lhe vergonha na cara. A nós, falta-nos tudo o resto.
Hoje e a si, exijo-lhe um pedido de desculpas. No futuro e a todos os portugueses que reelegeram este senhor depois de Pedrogão, peço-vos que desta vez não se esqueçam do pedido de desculpa que nunca tiveram, nem terão.
Porto, 24 de Março de 2020