Lembro-me de na infância ir à loja de ferragens para comprar tachas para colocar no pião e dar-lhe mais algum brilho enquanto rodava. Talvez por não saberem brincar ao pião, alguns representantes açorianos tentam brilhar falando em taxas e taxinhas no turismo, demonizando esta importante fonte de rendimentos de muitas famílias açorianas. Neste artigo irei tentar desmistificar alguns dos mitos que têm sido atribuídos ao Turismo, como:

“Temos de primar pelo turismo de excelência”. Sobre este mito convém relembrar a lei da oferta e da procura, segundo a qual o nosso produto só vale aquilo que os outros estão dispostos a oferecer por ele. Convém recordar como era o turismo açoriano até 2014, com restaurantes e hotéis vazios e falências constantes.

“Eles têm de contribuir pela utilização dos serviços públicos que utilizam”. Este mito é populismo na sua forma mais vincada. Recordo que os turistas pagam IVA nos locais onde pernoitam, nos carros que alugam, nos restaurantes onde comem, nas diversões que frequentam e nos brindes que compram. Arrisco-me a dizer que os turistas deixam mais IVA na RAA nos 4 a 5 dias que nos visitam do que a média dos açorianos deixa num mês.

“Estamos cheios de turistas”. Este mito já é célebre, mas é muito fácil de desmistificar. É uma questão de perspetiva. Cada um terá a sua visão pessoal, mas 30 ou 40 carros a lotar o miradouro da Grota do inferno ou a eventual dificuldade em encontrar uma mesa para almoçar num qualquer restaurante não devem servir de métrica para quantificar o excesso de turismo. A solução nestas situações passa por uma melhor programação e acomodação dos turistas nos locais de maior afluência e eventualmente por promover o desenvolvimento de um maior número de empreendedores açorianos que queiram liderar novos espaços de restauração.

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“Não há profissionais suficientes”. Termino com um mito que mais uma vez se resolve com a lei da oferta e da procura, e que se traduz numa oportunidade para os residentes. A inexistência de profissionais em número suficientes no mercado implica em estratégias alternativas para os empreendedores, como, por exemplo, melhorias salariais para garantir a fidelização dos seus trabalhadores.

Peço por fim que reflitam na grandiosidade deste número: 83 milhões de euros. Este é o diferencial de faturação da hotelaria e afins entre 2022 e 2014, ano em que adoptámos uma política de liberalização do turismo. Só em IVA a região faturou mais 3.200.000€ do que em 2014, e sem contabilizar outros impostos, nem considerar os benefícios resultantes da injeção desta soma de dinheiro na economia açoriana. Imaginem o real benefício se ainda somarem a receita em restaurantes, rent-cars, companhias de turismo, etc.

Vem tudo isto a propósito da conversa populista e demagógica que se ouve de vários quadrantes políticos sobre taxas e taxinhas, que em última análise pode colocar em causa a desenvoltura do turismo açoriano. É o Bloco de Esquerda que viu chumbada em assembleia municipal uma taxa de 1€ por dormida em Ponta Delgada, solução que representaria uma receita inferior a 1 Milhão de euros por ano. É o PAN que conseguiu aprovar na ALRAA uma taxa portuária de 3€ por cada turista desembarcado, e que acrescenta à RAA cerca de 3 Milhões de Euros anuais. É a CCAH que propõe uma taxa de 25€ por cada turista desembarcado na ilha Terceira e da qual obteria receitas de cerca de 2,5 Milhões de Euros.

Para dar algum enquadramento, 3 milhões de euros correspondem a menos de 0,2% do total das receitas esperadas pelo orçamento regional, o que demonstra que estas medidas não têm impacto nos cofres da região. No entanto, rotulam a região enquanto pedinte, sempre à crava de uma esmola àqueles que nos visitam. Saber receber não têm preço e os turistas só voltam e nos recomendam se tiverem tido uma boa experiência e não sentirem que foram enganados.