A TAP Air Portugal, outrora motivo de orgulho nacional, tem-se tornado um autêntico quebra-cabeças para o Estado e, inevitavelmente, para os contribuintes. A pergunta que devemos fazer é: até quando vamos continuar a despejar dinheiro numa empresa que, há anos, parece incapaz de voar sem as asas do Estado? Já foram necessários vários resgates financeiros , o mais recente de 3,2 mil milhões de euros , mas a companhia insiste em não descolar. Será que estamos a investir num balão de ar quente prestes a rebentar?
A gestão da TAP, em muitos momentos, roçou o surreal. Como justificar a atribuição de prémios milionários a gestores que falharam, enquanto a empresa definhava financeiramente? Mas será que uma empresa à beira do colapso pode continuar a distribuir milhões como se fosse uma multinacional próspera? Enquanto os trabalhadores veem os seus salários cortados e os contribuintes pagam a fatura, os gestores parecem estar a viajar em primeira classe com o dinheiro dos outros, claro.
E o que dizer dos serviços prestados aos clientes? A TAP conseguiu a proeza de aumentar os preços , enquanto oferece um serviço que, muitas vezes, não está à altura. Atrasos constantes, voos cancelados e uma comunicação deficitária com os passageiros são já quase parte da experiência de voo. Qual é a estratégia aqui? Oferecer o pior serviço pelo preço mais alto? Talvez haja um prémio por isso de que ainda não fomos informados.
Por outro lado, a questão da privatização parece estar sempre no ar. A TAP foi parcialmente privatizada em 2015, mas o Estado acabou por readquirir a maioria do capital da empresa, numa jogada que foi vendida como estratégica. Mas estratégica para quem? O Estado, aparentemente, comprou de volta uma empresa falida, com a promessa de a salvar. E o resultado? Mais uma ronda de resgates, mais uma série de decisões duvidosas e mais prejuízos. Estaremos condenados a esta relação tóxica com a TAP?
A ironia atinge o seu auge quando olhamos para a justificação oficial: a TAP é “estratégica” para o país. Estratégica em quê, exatamente? Para manter as ligações com as ilhas e a diáspora? Para isso, certamente existem soluções mais eficazes e menos onerosas do que sustentar uma empresa cronicamente deficitária. Ou será que é estratégica apenas para continuar a ser uma fonte de prejuízo? Porque, neste momento, parece que a única coisa que a TAP tem feito estrategicamente é gastar o dinheiro dos contribuintes.
Podemos continuar a fingir que, com mais uma reestruturação, mais um corte aqui e ali, e mais uns milhões do Estado, a empresa vai, magicamente, começar a dar lucro. Ou podemos enfrentar a dura realidade: talvez a TAP não seja viável nos moldes atuais. Não seria mais sensato privatizá-la por completo e deixar o mercado decidir o seu destino? Ou, melhor ainda, por que não encontrar uma forma de garantir as ligações essenciais sem esta constante sangria de recursos públicos?
A questão é esta: quantas vezes mais o Estado vai entrar em cena para “salvar” a TAP? E a que custo? O romantismo de manter uma companhia aérea nacional não pode sobrepor se à lógica financeira. E, enquanto continuarmos a insistir em alimentar esta máquina dispendiosa, estaremos apenas a adiar o inevitável.
É preciso questionar com seriedade se as sucessivas decisões de resgatar e proteger a TAP têm realmente servido os interesses do país ou apenas uma elite de gestores e grupos de interesse. A TAP, outrora um símbolo de orgulho, arrisca-se a tornar-se uma metáfora perfeita para o desperdício público. Talvez esteja na altura de cortar as asas que a mantêm no ar antes que nos arraste a todos para a queda.
A TAP não é apenas uma empresa. É parte da nossa história, uma companhia que transportou sonhos, reencontros e despedidas. Muitos de nós guardamos memórias de viagens em que a TAP nos levou mais longe, seja em corpo, seja em espírito. Contudo, o valor emocional que lhe atribuímos não pode justificar decisões insustentáveis. Há que reconhecer que o orgulho nacional se constrói com responsabilidade e com a noção de que, por vezes, é preciso saber deixar ir para garantir um futuro mais justo e equilibrado. A TAP deve representar o que de melhor Portugal tem para oferecer, mas não a todo custo. Afinal, não podemos continuar a voar sem destino.