De acordo com as estatísticas da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, entre 2013/2014 e 2015/2016, a percentagem de raparigas inscritas nos cursos de engenharia foi de 19%. Se excluirmos os cursos de Engenharia Química, Química e Biologia, Biomédica e Bioengenharia, nos quais normalmente a maior parte das inscrições são de raparigas, a percentagem desce para 15%. Nos cursos de Tecnologias de Informação e Comunicação a percentagem de mulheres diplomadas atingiu 26% em 2000. A partir de 2007 começou a descer e durante cerca de 10 anos manteve-se abaixo dos 20%. Apenas em 2017 a percentagem de mulheres nesta área voltou a atingir os 20%.

A diferença entre o número de homens e mulheres a trabalhar nesta área é muito grande e o mundo, para evoluir, precisa do contributo de todos. Neste momento, a área da tecnologia procura o contributo da mulher e é preciso compreender a que se deve a sua ausência. Será por falta de incentivo na educação para seguirem esta carreira? Será a culpa atribuída às nossas tradições e/ou a questões familiares que resultam no afastamento? Ou simplesmente tudo se explica pelo facto de existirem poucas mulheres interessadas na área? De qualquer forma, neste meio já existem mulheres que se destacam, não só em Portugal, mas pelo mundo com o seu trabalho, liderando projetos com grande sucesso. Agora o próximo objetivo é aumentar a representatividade dessas mulheres e mostrar às mais novas que também existe um espaço para elas, se o entenderem.

Já é possível notar que as empresas e os empregadores fazem um esforço pela diversidade e não é por obstinação. É necessário encontrar o equilíbrio de género no mundo do trabalho, com participações mais igualitárias em todas as áreas e promover essas participações desde criança. Está comprovado que ter uma equipa diversificada é sempre uma mais-valia, não só na área da tecnologia como em qualquer outro tipo de área. Todos sabemos que diferentes pessoas têm perspetivas diferentes sobre o mesmo tema e facilmente se compreende que homens e mulheres possam dar contributos diferentes ao mesmo trabalho. Claramente, isto não significa que um seja melhor que o outro, apenas significa que cada um, à sua maneira, dá um acrescento pessoal à sua função, melhorando-a em conjunto.

Outro objetivo de trazer mais mulheres para a área da tecnologia é incentivá-las e criar mecanismos que as ajudem a chegar a papéis de liderança e de criação de empresas. Ter mais mulheres em funções de chefia permite ter novas perspetivas de como uma empresa pode funcionar e posicionar-se em relação a temas sociais, criando impactos que vão para além das fronteiras da empresa. E da mesma forma que empoderamos as mulheres, pessoas não binárias também têm o seu contributo a dar nesta área. A tecnologia interfere com a vida de todos e todos nós temos o dever e o direito de construir um futuro mais positivo e igual. Para o alcançarmos precisamos do esforço combinado de todos, sem diferenças.

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O movimento HeForShe promove uma campanha de solidariedade para com os direitos da igualdade de género. Pretende dar visibilidade a temas relacionados com a discriminação de género, como diferenças na educação, problemas de violência doméstica e disparidades no mundo do trabalho. Como equipa, pretendemos mudar comportamentos e paradigmas, queremos compelir as pessoas a pensar em certas questões, com o objetivo de as aproximar para uma sociedade mais igual e com menos preconceitos. Acreditamos em envolver as pessoas nas questões sociais e torná-las conscientes dos problemas que as envolvem, tornando-as no mecanismo da mudança.

Para nós, a tecnologia significa uma forma de comunicação, uma ferramenta que possibilita a promoção de estratégias e resolução de problemas. E permitiu-nos criar uma comunidade recetiva à partilha de informações com causa social. O mundo depende da tecnologia para avançar, todos nós como sociedade afetamos e somos afetados pela tecnologia. Na nossa experiência, sabemos que a tecnologia facilita a resolução de problemas, dá a possibilidade às pessoas de encontrarem o apoio que precisam, responderem às suas dúvidas e criarem soluções que mitiguem estes problemas.

Bárbara Costa é estudante de mestrado na Faculdade de Farmácia e voluntária do HeForShe Porto – a representação em Portugal de um movimento para igualdade de género, internacional.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.